Quando leio livros de mulheres muçulmanas a viver no meio daquela repressão misógina, fico sempre com uma ideia mui científica na cabeça: o radicalismo islamita é a vingança das feias; boa parte das mulheres - a parte feia - apoia a repressão lançada sobre o corpo feminino. É como se estivessem a gritar "elas, as barbies, as bonitinhas, as boazonas, vão ver como é, ai vão, vão". Para confirmarem esta tese altamente científica, sugiro a leitura de O Preço da Liberdade, de Camelia Entekhabifard (n.1973), uma das mulheres iranianas que abanou o regime dos Ayatollah obcecados com as curvas femininas.



Após a revolução de 1979, a escolinha de Camelia foi varrida pela revolução misógina. A maquilhagem foi banida e até os pequenos espelhos foram proibidos (o batom é uma arma de destruição massiva). Volta e meia, Camelia e as amigas tinham de levantar o véu para mostrar se tinham depilado as sobrancelhas ou pintado o cabelo. E, neste ponto, o grau de fanatismo passava para o lado da comédia: como é visível, Camelia tem um cabelo com muito brilho e as professores não acreditavam que Camelia não pintava o cabelo; naquelas cabeças, aquela beleza capilar só podia resultar de uma ímpia visita a um cabeleireiro clandestino. Convocada para o tribunal capilar, a mãe de Camelia jurava que aquele era o cabelo natural de Camelia, mas as guardas da revolução não acreditavam (até porque Camelia é um nome de uma galdéria ocidental). Ora, com a previsibilidade das cadelinhas de Pavlov, as alunas que aceitavam e defendiam esta repressão eram aquelas que ostentavam um "buço no lábio superior". O buço era um sinal de devoção.



A brigada do buço continuou a marcar a vida da nossa heroína. Quando cresceu, Camelia ingressou no jornalismo reformista. Resultado? Foi presa. Já na prisão, a sua lingerie causava raivas babilónicas nas guardas prisionais, que, como é óbvio, partilhavam um buço devoto, farto e colectivo. E - pior ainda - estas mulheres pareciam concordar com a atitude dos machos, aquela atitude do ela-estava-a-pedi-las. Numa fila do cinema, Camélia sofreu um gang bang de apalpões por parte de um grupo de soldados. Camelia não podia apresentar queixa, porque as guardiãs da revolução iriam considerar que a culpa era dela, e não dos soldados. Moral desta história? Depois de ler mais este diário persa, reforcei uma ideia muito cá de casa, uma ideia mui científica: o islamismo misógino é uma espécie de máfia dos mal-amados e das mal-amadas, para usar um eufemismo publicável.


Ler mais: http://expresso.sapo.pt/a-vinganca-das-feias=f726610#ixzz1vQgnzjUR
retirado do site: http://expresso.sapo.pt/a-vinganca-das-feias=f726610 acesso em 20 de maio
VAMOS ENTENDER ESTA HISTÓRIA ?

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