Modelos na SPFW contestam lei que proíbe magreza excessiva




PEDRO DINIZ
COLUNISTA DA FOLHA

20/04/2015  02h15
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Enquanto o Senado francês se prepara para votar nas próximas semanas duas emendas à Lei da Saúde Nacional que criminaliza a contratação de modelos excessivamente magras na França, como forma de combater a propagação da anorexia no país, as tops e os convidados que passaram pela 39ª edição da São Paulo Fashion Week contestam a viabilidade prática do projeto.

A Folha levou uma balança e pesou algumas modelos nos bastidores dos desfiles e constatou que, para o padrão exigido pela França, elas estão ou no limite ou abaixo do necessário.

O texto do deputado Olivier Véra foi aprovado na terça (14) pela Assembleia Nacional do país e agora segue para o Senado. Estipula pena de até seis meses de prisão ao contratante da modelo considerada anoréxica e multa de 75 mil euros (R$ 250 mil) à agência que contratar garotas com Índice de Massa Corporal (IMC) inferior a 18. O número é obtido pelo peso dividido pela altura ao quadrado.

Uma das apostas da grife de lingerie Victoria's Secret, Laís Ribeiro, 24, tem 1,80 m de altura. No teste da balança, pesou 61 kg. Passou raspando no limite do IMC, com 18,8. "Muitas meninas são magras naturalmente", diz ela.

Liliana Gomes, que representa a modelo, critica a lei: "Todo mundo sabe que músculo pesa tanto quanto gordura, por exemplo. O IMC não dá noção se a modelo é magra ou não. Isso não faz sentido. Na agência, não procuramos meninas pelo peso, mas pelo biotipo magro e pela altura".

Já Vivi Orth, 25, cravou um índice de 16,5, o que a eliminaria dos desfiles franceses. A Espanha, o Chile e Israel têm regulamentadas leis que definem um padrão de peso para contratação de modelos.

Mas Vivi diz que muitas meninas conseguem burlá-las. "Nos 'castings' [seleções], é comum a modelo colocar enchimento nas calças para ficar mais pesada. Com certeza, eu não me encaixaria nessa medida mínima", diz ela, que pesa 54 kh e mede 1,81 m.

O IMC de 18 é limítrofe para um corpo saudável, segundo a Organização Mundial da Saúde. Abaixo disso, a mulher é considerada desnutrida e, se constatadas alterações nas taxas hormonais, cabelos e unhas fracos e problemas em ingerir comida, ela é diagnosticada anoréxica.

As agências francesas temem uma invasão de esquálidas de outros países, que supririam a demanda do mercado de moda francês e acreditam ser impossível cravar, a partir de um IMC, se as modelos são saudáveis.

Segundo a nutricionista Viviane Scheifer, a lei francesa pode ser um grande passo para uma mudança global.

"As meninas recebem a mensagem de que ser muito magra é bonito e chegam a cometer loucuras. Já tive paciente que comia tijolo", conta.

Ela frisa, no entanto, que só é possível avaliar o estado de magreza com exames clínicos e que meninas novas com o biotipo magro costumam ter IMC abaixo do normal. "Avalio o lado psicológico da mulher para cravar um diagnóstico de anorexia", explica.

Não há nenhuma lei no Brasil que determine o mínimo necessário de IMC para uma modelo desfilar.

Colaboraram GIULIANA MESQUITA e ISADORA BRANT.
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