Renata Saavedra, historiadora e comunicóloga: ‘O feminismo é, sim, uma pauta atual’
Pesquisadora, de 27 anos, desenvolve na UFRJ tese de doutorado sobre as grafiteiras do Brasil
“O feminismo tem mobilizado jovens nas redes e nas ruas. Uma imagem de uma mulher diferente da comumente representada na mídia, com mensagens como ‘Mulher bonita é mulher que luta’, ‘Machismo mata’, é diferente do que se espera ver ao circular pela cidade”
Conte algo que não sei.
Estou fazendo uma pesquisa sobre coletivos de artistas que usam as artes urbanas, em especial o grafite, para divulgar ideias feministas e lutar pelos direitos das mulheres. O objetivo é mapear esses grupos, que se articulam pelo país, para conhecer suas propostas e ver como, na prática, essas mulheres usam as artes visuais como estratégia de comunicação.
Dentre todos os tipos de arte urbana, por que pesquisar as grafiteiras?
Um dos motivos é a importância de preencher uma lacuna no que diz respeito à presença feminina nas manifestações políticas e culturais realizadas pela juventude. A maior parte dos estudos sobre culturas juvenis aborda, principalmente, os jovens do sexo masculino. Geralmente, associam as jovens a questões como maternidade e sexualidade.
É uma forma de incentivar o reconhecimento do trabalho dessas mulheres?
Além disso, é fundamental conhecer essas novas formas de militância e engajamento político dessas jovens, para desmistificar a ideia de que esta é uma geração que não se interessa por política, é alienada e individualista. No lugar de manifestos, passeatas ou grupos de estudos, o engajamento hoje se dá por meio do grafite, do lambe-lambe, do funk, dos saraus e dos fanzines.
Como historiadora, o movimento feminista é um tema atual ou ultrapassado?
É fundamental desconstruir o mito de que o feminismo é ultrapassado. Ignora-se, por exemplo, que cerca de 70% das mulheres sofrem algum tipo de violência no decorrer de sua vida. O feminismo é, sim, uma pauta atual e tem mobilizado cada vez mais jovens nas redes sociais e nas ruas.
Qual a maior dificuldade das grafiteiras?
Acredito que seja o enorme preconceito que o feminismo ainda enfrenta junto ao senso comum. Há um esforço muito grande no sentido de desqualificar o movimento, que se traduz na ideia estigmatizante de que as feministas são feias, mal-amadas, odeiam os homens. Estamos em 2014 e ainda ouvimos frases como “Não sou feminista, sou feminina”.
Qual é o seu objetivo após a conclusão da pesquisa?
Além da tese de doutorado, pretendo produzir um documentário para poder levar a discussão sobre o tema a um público maior. A ideia é que esse trabalho possa estimular novas reflexões sobre essa interface entre produção cultural, estilos juvenis e política.
Qual a importância do trabalho dessas mulheres em uma cidade?
Há uma enorme resistência em se discutir temas como a descriminalização do aborto, a violência doméstica, a cultura do estupro e outros. As intervenções realizadas por essas artistas trazem essas assuntos para o cotidiano dos moradores das cidades. A partir de uma oficina de grafite ou de um muro grafitado, muitas mulheres que não teriam a iniciativa de buscar um grupo feminista mais convencional ou de assistir a uma palestra, por exemplo, passam a questionar determinadas situações naturalizadas — como assédio, desigualdades no mercado de trabalho e opressões que vivem em suas relações pessoais. Com o grafite, os quadrinhos, o rap, o funk e outras linguagens, essas artistas fornecem novos modelos para o movimento feminista contemporâneo.
Leia mais sobre esse assunto em http://oglobo.globo.com/sociedade/conte-algo-que-nao-sei/renata-saavedra-historiadora-comunicologa-feminismo-sim-uma-pauta-atual-13722039#ixzz3MpnC4pS3
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