jovens de classe C e a escolaridade

Nice de Paula (Email)
Publicado:24/04/13 - 7h00
Atualizado:24/04/13 - 15h29

Allan Lopes da Silva é porteiro, mas pagou cursinho particular para filha Samara. Ela conseguiu passar no vestibular e está fazendo faculdade na PUC. Já a filha mais nova, Amanda Moreth da Silva vai fazer o pré-vestibular
Foto: Carlos Ivan / Agência O Globo
Allan Lopes da Silva é porteiro, mas pagou cursinho particular para filha Samara. Ela conseguiu passar no vestibular e está fazendo faculdade na PUC. Já a filha mais nova, Amanda Moreth da Silva vai fazer o pré-vestibular Carlos Ivan / Agência O Globo
RIO - Se a expansão da renda e do poder consumo marcaram a ascensão de quase 40 milhões de brasileiros à classe C na última década, o aumento da escolaridade parece ser a principal mudança entre os membros mais jovens destas famílias. Mas não a única.

 

Os filhos da chamada nova classe média são mais informados, conectados à internet e têm opiniões menos conservadoras sobre a mulher e o homossexualismo do que seus pais, revela o estudo "Geração C", que acaba de ser concluído pelo Instituto Data Popular. Trata-se de um perfil dos cerca de 23 milhões de jovens de 18 a 30 anos com renda mensal entre R$ 219 e R$ 1.019 e representam 55% dos brasileiros dessa faixa etária.
— Esse jovem vai ser um adulto muito diferente do pai. A educação é o grande diferencial, óbvio. Mas eles já estudaram mais do que os pais e isso traz uma série de desdobramentos, como aumento da renda da família, empregos melhores, mais informação. A primeira geração de universitários da família é menos conservadora, não vê mais a mulher como dona de casa, não vai querer do governo bolsa família, e sim desoneração de impostos para computadores. Eles vão mudar a cara do Brasil — diz Renato Meirelles, sócio-diretor do Data Popular. Segundo ele, o ápice da mudança será em 2022, quando essa geração estará no auge de sua atividade produtiva.
Tomando por base dados da Pesquisa Nacional de Amostra do Domicílios (Pnad) do IBGE e entrevistas com mais de duas mil famílias, o estudo conclui que os filhos da classe C passam quase 50% mais tempo na escola do que seus pais, enquanto na classe A, esse aumento é de 20%. E de cada R$ 100 que recebem, R$ 70 são destinados às despesas da família. Nas classes mais altas, a contribuição é de 20%.
— Ele ajuda mais por causa da necessidade da família. Mas o que mais chama atenção nessa pesquisa é ver que os jovens são os novos formadores de opinião. É para ele que o pai pergunta sobre o que vai ser comprado, para onde a família vai viajar. E eles têm uma força eleitoral muito grande — afirma Meirelles.
Aumenta o acesso à universidade
Uma tese de doutorado defendida mês passado na UFMG revela que, nos últimos dez anos, aumentou o acesso de filhos de pais analfabetos ou com pouca escolaridade ao ensino superior. Cruzando números da Pnad 2009 e do Censo 2010, o sociólogo Arnaldo Mont’alvão, autor da pesquisa, mostra que filhos de pais com ensino fundamental completo têm duas vezes mais chances de chegar à faculdade do que aqueles com pais analfabetos. Se os pais tiverem ensino médio, a chance aumenta para quatro vezes; e alunos cujos pais têm curso superior têm 16 vezes mais chances de chegar à faculdade do que os filhos de pessoas sem qualquer educação formal.
Já foi pior. Na última década, a vantagem dos filhos de pais com ensino fundamental caiu 3%, com ensino médio encolheu 6%, e com ensino superior, 12%.
— A diminuição da influência da escolaridade dos pais sobre a progressão dos filhos ao ensino superior significa que uma proporção maior de estudantes cujos pais não tiveram muitas oportunidades educacionais conseguiu atingir este nível educacional nos últimos anos — diz Mont’alvão.
Os fatores que ajudam os jovens das classes populares a alcançarem níveis de escolaridade elevado são temas de outra pesquisa, que ainda está sendo realizada por Manoel de Almeida Neto, professor da PUC-MG.
— A segurança econômica propiciada pelo aumento da renda das famílias melhora a probabilidade desse aluno chegar ao curso superior. Ele deixa de trabalhar para investir na educação, o que exige da família uma série de sacrifícios. Mas, com uma renda apropriada, isso passa a ser visto como possibilidade efetiva e não mais algo que 'não é para você’ — explica Neto.
Que o diga Samara Silva, 20 anos, aluna do curso de Comunicação Social da PUC-RJ. Filha do zelador Alan Lopes da Silva, 49 anos, e da diarista Georgina Moreth da Silva, 51, ela sempre estudou em escola pública, mas os pais pagaram um pré-vestibular, que a ajudou a entrar na faculdade, onde depois conseguiu bolsa integral.
— Nunca me imaginei vivendo esse sonho. Reconheço o esforço dos meus pais. O que estou tendo, eles não puderam ter — diz Samara.
No ano em que jovem fez cursinho, os gastos da família foram reduzidos ao extremo.
— Deixamos de visitar os parentes, comprar roupas e coisas para casa. E hoje ainda gastamos muito dinheiro com transporte e alimentação dela — diz Alan, já pronto para repetir tudo de novo com filha mais nova, Amanda, de 18 anos.
Segundo Manoel Neto, além da renda há outros fatores que ajudam os estudantes pobres a atingirem níveis de escolaridade superior. Para ele, o Pró-Uni, programa do governo federal que concede bolsas de 50% a 100% para universitários com renda familiar per capita de 1,5 a três salários mínimos, também foi fundamental:
— A isenção na taxa de vestibular parece pouco, mas será importante porque fará com que ele pelo menos tente. A redução do número de filhos na famílias também ajuda, pois permite que elas invistam mais neles.
É o que acontece na casa da família Almeida, em Caxias, na Baixada Fluminense. A renda mensal de R$ 2.500 que o pai, André Castro de Almeida, de 38 anos, recebe como caminhoneiro é dividida entre as despesas da casa, a faculdade da esposa Tatiana Santos Almeida, de 32 anos, que custa R$ 673, e a escola da filha Giovanna, de 3 anos, que leva outros R$ 320.
— Já trabalhei em escolas públicas e elas não dão uma boa base para crianças. Para garantir uma boa educação para minha filha, precisamos fazer muitos sacrifícios: cortamos telefone e internet, moramos longe da família, não podemos comprar eletrodomésticos ou um sofá melhor — diz Tatiana.


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