A nova cara do Brasil: Jovens da classe C conquistam mercado de trabalho qualificado

 

Há muito se fala que uma revolução silenciosa está em curso. Quase sempre, para se referir a avanços tecnológicos e suas implicações nas nossas vidas desavisadas. De fato, o mundo digital todo dia põe de cabeça para baixo e arremessa em tornado as certezas dos que cresceram analógicos e ainda balbuciam o alfabeto de bytes. No entanto há outras mudanças radicais se dando para além do universo de gadgets, aplicativos e afins – tão ou mais inovadoras e ousadas quanto. É o caso dos jovens que formam a nova classe C brasileira.
De acordo com pesquisa realizada pelo Instituto Data Popular, a nova classe média nacional não só rompe com um padrão que se perpetuava há décadas em nossa sociedade como tem em suas mãos o poder de ditar o rumo da economia brasileira nos próximos anos. E o mais interessante: essa ruptura é ocasionada não por aspectos meramente financeiros e sim, necessariamente, pelo nível de escolaridade.
Com a estabilização da economia e o surgimento de novas oportunidades no mercado de trabalho, esses jovens da classe C obtiveram nível de instrução formal maior que seus pais; consequentemente desempenham atividades profissionais mais intelectualizadas e têm uma remuneração superior. Só para se ter uma ideia da dimensão desse fenômeno, de cada 100 jovens desse grupo social, 68 estudaram mais do que os pais.
Os resultados apontados pelo estudo, que analisou os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad/IBGE), mostram, por exemplo, que as profissões mais adotadas por homens e mulheres da classe C com idade entre 45 e 65 anos são: domésticos, comerciários, trabalhadores da construção civil, cozinheiros e zeladores, nesta ordem. Nesta mesma faixa etária e social, apenas 9% têm nível superior de ensino, 26% têm nível médio, 58% têm ensino fundamental e 7% não têm instrução.
Quando estes mesmos critérios são observados na população da classe C com idade entre 18 e 25 anos, constata-se a grande mudança. Quatorze por cento têm nível superior, 65% têm nível médio, 20% tem ensino fundamental e somente 1% não tem instrução. As profissões mais comuns nesse recorte populacional também são outras. Em primeiro lugar vêm os comerciários, seguidos por auxiliares administrativos, operadores de telemarketing, caixas e bilheteiros e recepcionistas.
O mesmo não se repete nas classes A e B. Nestas, são mínimas as variações no nível de escolaridade entre pais e filhos. Setenta e um por cento das pessoas com idade entre 45 e 65 anos têm nível superior contra 74% dos que têm entre 18 e 25 anos, por exemplo. Ambos os grupos também compartilham profissões como advogados, bancários e gerentes de produção.
Vida Real
Mais que em estatísticas, essa mudança de perfil da nova geração da classe média é palpável, próxima. Basta um olhar mais apurado para nosso entorno e percebe-se o que a pesquisa mostra.
Histórias de muitos, como o coordenador de marketing Emanuel Costa Maranhão, 27 anos, dão conta de traduzir para o mundo real o que os números sinalizam. Filho de Elza, um empregada doméstica que cursou até a 4ª série do ensino fundamental, e Manoel, um bombeiro hidráulico semi-alfabetizado, Emanuel está concluindo a faculdade de Publicidade. Há seis anos, trabalha no grupo de comunicação O POVO e hoje coordena um departamento. Antes de engatar na profissão tão sonhada, no entanto, enfrentou vários desafios.
“Meu pensamento era terminar o segundo grau e logo arrumar um emprego, porque é assim que todo mundo pensa onde eu nasci e me criei, no Lagamar”, conta. “Terminei o colégio e fui trabalhar. Já trabalhei de muita coisa. Meu primeiro emprego foi numa oficina mecânica, sabe? (risos). Mas sempre tive o sonho de fazer faculdade. Isso me parecia muito difícil, um sonho distante, mas a vontade estava lá”, lembra.
As mudanças na vida de Emanuel, logicamente, implicaram mudanças na vida de seus pais. Hoje casado e pai de Lolita, de um ano e três meses, o rapaz conseguiu convencer a mãe a deixar a última casa em que trabalhava. “O cara não pagava ela direito, atrasava… Não valia mais a pena ela continuar”, justifica. O pai também não trabalha mais, por conta de problemas na coluna. “Ele só pega um trabalho aqui e outro ali, mas é raro”. As contas da casa são divididas entre os dois irmãos mais novos de Emanuel, Elzenir e Eduardo, que ainda moram com os pais, e pelo próprio coordenador de marketing, que arrumou emprego novo para a mãe. Elza, hoje, é a babá da neta. Enquanto Emanuel e sua esposa trabalham, é ela quem toma conta da menina. E recebe um salário para isso.
“O sonho que eu achava tão impossível antigamente, hoje está bem mais fácil. Não sei se pela questão financeira do País, se pela Internet… mas o mundo mudou muito nesses cinco anos – e isso nem é muito tempo, né? Todo mundo tem acesso a todas as informações o tempo todo. Lá no Lagamar mesmo, todo mundo tem computador em casa, tem muita lan house… É um mundo muito mais amplo esse de hoje”, analisa Emanuel, sintetizando páginas e páginas de pesquisa com sua experiência de vida.
ENTENDA A NOTÍCIA
A nova geração da classe média deixa para trás o modelo “Tal pai, tal filho” e torna-se a maior força motriz da economia brasileira, investindo em formação profissional e sendo a porta de entrada das novas tecnologias
NÚMEROS
19mi de jovens economicamente ativos
Dos 21 milhões de jovens economicamente ativos, 19,5 milhões são das classes C e D
16% das pessoas entre 16 e 25 anos das famílias da classe C recebem algum tipo de mesada.
A renda anual total de jovens das novas classes C e D é de R$ 96,6 bilhões contra R$ 41,4 bilhões da renda média anual dos jovens das classes A e B.
ONTE: Data Popular com dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad/IBGE)
RENDA DAS CLASSES SOCIAIS
Classe A – Mais de 20 salários mínimos/mês (acima de R$ 10.240)
Classe B – De 10 a 20 salários mínimos/mês (de R$ 5.120 a R$ 10.240)
Classe C – De 3 a 10 salários mínimos/mês (de R$ 1.536 a R$ 5.120)
Classe D – De 1 a 3 salários mínimos/mês (de R$ 512 a R$ 1.536)
Classe E – Até 1 salário mínimo/mês (R$ 512)
Renda familiar por mês
FONTE: Data Popular com dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad/IBGE)
 

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