A influência da propaganda de equipamentos de atividade

*Graduandos do Curso de Ciências da Atividade Física - Universidade de São Paulo **Orientador. Prof. Dr. Universidade de São Paulo
Escola de Artes Ciências e Humanidades
Bruno Venoso*
Cassio Araujo Rezende*
Danilo Chiba Toledo*
Fábio Da Silva Lourenço*
Helio Loredo Mesquita*
Henrique Chagas Gomes*
Mariana Siqueira Antunes*
Mohamad Amin*
Marco Antonio Bettine de Almeida**
marcobettine@gmail.com

Resumo



Uma das características marcantes da atual sociedade é ter a mídia como tendência de comportamento. A busca para atingir certos padrões de beleza pode trazer sérios riscos à saúde, quando os limites fisiológicos são desrespeitados, além de geralmente serem atribuídas a resultados rápidos com pouco esforço. O presente artigo tem como objetivo discutir as relações entre a influência da mídia na aquisição de aparelhos de atividade física não monitorados e a utilização sem o devido acompanhamento profissional. O método de pesquisa consiste analise de uma propaganda e questionário de profissionais de Educação Física, especializados em trabalhar em academias de ginástica e musculação, apontando possíveis riscos detectados à saúde dos usuários. Conclui-se que não há resultados comprovados da utilização dos aparelhos, não há preocupação com a saúde e super-valorização da estética.
Unitermos: Estética. Corpolatria. Mídia.
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 15, Nº 151, Diciembre de 2010. http://www.efdeportes.com/

1. Introdução



Uma das características marcantes da atual sociedade, segundo (Castro, 2003, p.18) é ter a mídia como “o agente difusor do culto ao corpo como tendência de comportamento”. No Brasil, principalmente a mídia televisiva tem uma forte participação na construção de tendências, padrões e valores sociais relativos ao corpo, e busca conseguir isto através de técnicas de marketing, por vezes apelativas, conhecedoras de seu público-alvo.
Pesquisas apontam que na década de 1920, o fenômeno de culto ao corpo surge no Brasil, sob influência das indústrias de cosméticos, da moda e das publicidades de Hollywood, em virtude disto, as mulheres passam a maquiagens e a valorizar o corpo magro (Featherstone, 1993). Este fenômeno foi intitulado como “corpolatria”, o ato de cultuar a aparência. Este fenômeno transmitiria a falsa impressão de felicidade, através do bom convívio proporcionado nas inter-relações pessoais.
A busca para atingir certos padrões de beleza pode trazer sérios riscos à saúde, quando os limites fisiológicos são desrespeitados, além de geralmente serem atribuídas a resultados rápidos com pouco esforço. Alguns comportamentos podem causar desde uma simples lesão a danos que podem limitar ou reduzir a capacidade motora ou fisiológica, ou até mesmo causar problemas irreversíveis.
O presente artigo tem como objetivo discutir as relações entre a influência da mídia na aquisição de aparelhos de atividade física não monitorados e a utilização deles sem o devido acompanhamento profissional, com base na opinião de profissionais do ramo da Educação Física, especializados em trabalhar em academias de ginástica e musculação, apontando possíveis riscos detectados à saúde dos usuários.
Para tanto foram reunidas referências bibliográficas com o objetivo de definir conceitos fundamentais para o estudo como saúde, propaganda e corpolatria. Utilizou-se um questionário no qual foi avaliado a opinião de profissionais, de educação física de academias de ginástica, e uma propaganda televisa de um aparelho XX (por motivos éticos não escreveremos o nome do aparelho, pois ele, aparelho, apenas representa a industria do fitness televisivo).



2. Conceitos



2.1. Saúde
Numa primeira concepção, saúde é simplesmente a ausência de doença. Porém, atualmente percebe-se a saúde como um estado de equilíbrio entre fatores físicos, psicológicos e sociais.
Segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde), foi idealizado no ano de 1948, a definição de saúde como: Um estado de completo bem-estar físico, mental e social e não apenas a ausência de afecção ou doença.
Através destas observações constata-se que, além da condição individual, o estado de saúde também sofre influência do ambiente, tornando mais complexo atingir o conceito de saúde completa, sendo necessária a avaliação no âmbito de três pontos de vista; clinica, psicológica e social.
Existem ações que podem contribuir para a manutenção da saúde e o bem-estar do indivíduo, tais como: submeter a determinados hábitos, como nutrição adequada, comportamentos preventivos (utilização de tabaco ou álcool em excesso), vida social ativa e a prática regular de atividades físicas. O conjunto destas medidas, juntamente, com as condições de vida, influencia diretamente no estado de saúde das pessoas no meio social onde vivem.

A sociedade influi nos conceitos de saúde, impondo estereótipos dos quais as pessoas buscam incessantemente adequar-se. Pessoas pertencentes a estes estereótipos, sentem-se mais valorizadas dentro da sociedade, por estarem de acordo com os conceitos estipulados por ela. Um estereótipo modelo é corpo magro ou escultural podendo representar a falsa impressão de saúde.



2.2. Propaganda
A representação nas mídias do corpo, noções de indivíduo, sujeito ou subjetividade, são um objeto apenas da idéia do “eu”. Tal ocorrência vem sendo modificada com o tempo e a cultura predominante. Discursos filosóficos e sociais expõem a representação do “eu” com diferentes tipos de argumentos, contradições e inadequações a respeito das definições estáveis e acabadas do “eu”. Já a mídia, tende a partir para o lado das ilusões com o fim de benefícios institucionais.
Diante do presente conflito de representações, a definição que mais estará presente na memória das pessoas, não será o ideal da teoria filosófica, e sim o ideal de imagem produzido pela mídia, pela sua maior facilidade de acesso. Esta imagem incentiva o imaginário, que alimenta as miragens do ego: um corpo modelizado como ideal a ser atingido, resultando na promessa superficial de felicidade.
Ao longo do século XX, através das tecnologias de propaganda e marketing, foram desenvolvidos processos de interação das pessoas com produtos ou modelos da imagem do eu. O que provoca profundo efeito sobre as experiências corporais através da fantasia de determinadas existências de corpo perfeitas influenciando no desejo e sonho de cada um. Como há uma apreciação externa das pessoas, ocorre uma supervalorização da aparência, levando à busca da forma e volume corporal ideal.

Segundo Castro (2003), a definição de culto ao corpo e sua ação são, respectivamente tipo de relação dos indivíduos com seus corpos que tem como preocupação básica seu modelamento a fim de aproximá-lo o mais possível do padrão de beleza estabelecido e a mídia constitui-se num dos principais meios de difusão e capitalização do culto ao corpo como tendência de comportamento. A hipervalorização da construção corporal, envolve a prática de atividade física, com ou sem acompanhamento profissional, dietas, cirurgias plásticas, uso de produtos cosméticos, em suma tudo que auxilie na aproximação com o corpo ideal.

A mídia mantém-se presente na vida cotidiana, levando ao leitor novidades tecnológicas, influenciando suas tendências. Para tal fim, recorre ao profissional (conhecido ou não) que tem espaço e sucesso garantido diante do público alvo, usando-o como modelo a ser seguido. Ela divulga resultados que induz o cliente a pensar que é possível atingi-los comprando suas mercadorias, como exemplo as dietas ou os aparelhos de exercícios físicos usados sem monitoramento, sem a devida orientação.

Santos (2006) menciona a mídia e sua ação na sociedade, afirmando que a propagação de informações gera a manutenção de uma rede de valores, que são cultuados com o intuito de valorizar os modelos culturalmente consolidados a partir da renovação estética, de usos e costumes, comportamentos de moda, garantindo, desse modo, o caráter sublime sob o qual se apresenta esse universo de inovação e manipulação da aparência.



O que se encontra na imprensa é a proposta a ser seguida e vencida, que vence até mesmo o desenvolvimento natural humano: o envelhecimento. Em função disso, multiplicam-se as academias, spas e centros estéticos para busca da perfeição corporal externa levando ao esquecimento a garantia ou melhoria da saúde física ou mental.



A Corpolatria, como culto ao corpo, tornou-se comum, a mídia, como instrumento veiculador da propaganda de forma acessível através de canais pagos ou abertos, por rádio ou impressos, divulga formas de obtenção de padrões estéticos.



A imagem do corpo ideal é aquele padronizado, com formas e volumes perfeitos, livre de rugas ou deformações e doenças, um corpo construído com próteses, retocado através de cirurgias plásticas, em que o natural é substituído por elementos artificiais introjetados como hormônios, anabolizantes, suplementos alimentares, silicones e próteses. Assim, ocorre a transformação da essência natural humana e a suposta perfeição corporal, na decorrência de uma falsa impressão de bem estar, falsa por não incluir a promoção da saúde, do bem estar físico e mental.



3. Método de pesquisa



Foram realizadas pesquisas bibliográficas em livros e artigos científicos e pesquisa de campo na forma de questionário com perguntas abertas para profissionais que atuam em academias e análise de propagandas televisivas.



Conceitos fundamentais como saúde, corpolatria e propaganda foram desenvolvidos com base em bibliografias específicas.



O questionário abordou aspectos fundamentais da utilização dos aparelhos de exercícios físicos não monitorados e a opinião dos profissionais educadores físicos de academias.



Uma propaganda televisiva específica foi analisada: aparelho XX, da marca XX.



Uma junção das análises das pesquisas de campo foi feita, seguida de uma discussão e por fim a conclusão referente à influência da propaganda e sua relação risco à saúde e corpolatria.



4. Resultados



4.1. Análise da propaganda



A propaganda escolhida para análise foi do aparelho vendido pela marca XX, o qual é exposto na televisão ou internet. Ele teria o objetivo de fortalecer músculos como os abdominais, os glúteos e membros superiores e inferiores.



Durante sua amostra, há citações para a prática de exercício com e sem monitoramento profissional, tenta-se mostrar que ele pode ser usado em qualquer lugar, seja dentro ou fora de casa e até em academias, como é mostrado na XX. No entanto, quando se faz referência ao uso fora da academia, não se demonstra ser necessário acompanhamento profissional.



Desde o começo da propaganda, a primeira citação é perda de peso, e logo depois queima de calorias, aos quais são adicionados adjetivos como rápida, simples e divertido. Em nenhum momento há a preocupação com saúde, ou estímulo à pratica de exercícios para tal fim, afirma-se que se preserva as articulações sem nenhum impacto a elas e que os resultados são garantidos. Os resultados a que se remete são: tonificação muscular e perda de peso e com isso um corpo bonito.



Ainda cita-se haver um estudo que comprovaria que o referido aparelho queimaria mais calorias que sessões de bicicleta ou esteira, porém não há referência de carga ou intensidade do treino, podendo tal afirmação ser relativa e incerta. E não há evidências do estudo no site.



A propaganda demonstra ter finalidade estética, já que usa expressões como: “Bumbum mais sexy, bonito e atraente” , “ Abdômen invejável” e “ Cintura que sempre sonhou”; além de não referir-se à saúde.



4.2. Análise da pesquisa de campo



A pesquisa de campo abrangeu um questionário aplicado aos profissionais da área de Academias, no total de dez pessoas, com perguntas relativas ao conhecimento de aparelhos usados sem monitoramento profissional, relatos a respeito do uso questionando benefícios e riscos e finalidade da propaganda dos aparelhos.



De acordo com as respostas, todos os profissionais relataram: conhecerem algum modelo de aparelho vendido com o intuito de ser usado sem acompanhamento e pessoas que utilizaram algum tipo, o relato das pessoas sempre foi de não obter resultado ou de não obter como o garantido na propaganda e a finalidade da propaganda ser meramente comercial, ou seja, com fins lucrativos.



Um benefício citado foi o incentivo à prática de exercícios; já os riscos podem ser desde dores a lesões musculares e até arritmia, causadas por uso indevido, sem a avaliação profissional e a não obtenção do resultado almejado.



5. Discussão



Como citado anteriormente, durante a propaganda do produto analisado, o termo saúde diretamente não é mencionado nenhuma vez. Enquanto termos como “corpo tonificado”, “perder peso” e “queimar calorias” são citados mais de uma vez. O locutor enfatiza a importância de se obter braços e pernas bem torneados, peito, costas e glúteos atraentes, cintura “dos sonhos” e abdômen enrijecido. Percebe-se que a propaganda não se preocupa com a saúde dos usuários, visando apenas à parte estética, ou seja, a saúde não é ao menos referenciada, não sendo, portanto, o objetivo da venda.



A propaganda fortalece o desejo da busca do corpo perfeito, potencializando imagens através de atores e o nome conceituado de uma academia, e usando como estratégia de venda os termos “queima de calorias”, “perda de peso” e “corpo tonificado”, pois são estes termos atraentes aos compradores.
Para otimizar as vendas alguns artifícios são utilizados: pessoas já com corpos modelados utilizando o aparelho, além de profissionais de academias, famosos ou não, imagens de “antes e depois”, entrevistas e gráficos demonstrando a sua suposta eficácia.
Para que surja o efeito esperado pelo aparelho é necessária à execução correta dos exercícios, algo que exige um acompanhamento de um profissional capacitado. As entrevistas feitas com profissionais da atividade física que atuam em academias relatam pessoas que cessaram rapidamente o uso do aparelho por dois motivos principais: não atingiram o resultado esperado dentro de um período curto de tempo ou porque começaram a sentir dores nas articulações. A partir destas respostas aparenta que existe pouca prevalência de pessoas que somente praticam exercícios físicos com o uso destes tipos de aparelho.
O questionário apontou um benefício aos aparelhos citados: a prática de atividade física. Em um primeiro momento poderia ser, no entanto, as pessoas tendem a abandonar o uso seja por dores ou lesões causadas pelo mau uso ou por não atingirem o resultado desejado, levando ao término da prática de atividade física. Isso pode ser explicado pelo fato de que o usuário alimenta a ilusão que o uso do aparelho lhe trará o resultado de um corpo perfeito de maneira rápida. Ao ver que este resultado esperado não chega, ou ainda que sofra alguma lesão na musculatura, pois não teve um acompanhamento profissional e executou o exercício de maneira demasiada ou muito intensa, pode-se criar uma espécie de barreira contra a atividade física, pois suas experiências com estes tipos de atividades foram, em sua maioria, frustrantes e negativas.
Visando investigar o real sentido e a influência que a propaganda do produto XX exerce sobre os compradores, o artigo reuniu avaliações de profissionais de educação física que atuam em academias, constatou-se que: os aparelhos anunciados na mídia televisiva têm o objetivo de promover a prática de exercícios físicos através da exploração estética, não transmitindo a importância de praticar atividade física em benefício da saúde e a instituição da mídia possui fins comerciais em detrimento de fins positivos à saúde.



6. Considerações finais
Conclui-se que mediante análise do estudo a mídia influencia tendências e padrões de estética, os usa através da promoção da prática de atividade física com intuitos comerciais vendendo aparelhos. Não menciona em momento algum se a atividade física é benéfica à saúde do usuário e se há riscos ao praticá-la sem um acompanhamento profissional. As pessoas afirmam que com o passar do tempo deixam de usar o aparelho por falta de resultado, falta de estimulo ou por adquirirem lesões.



Referências bibliográficas
CASTRO, A. L. de. Culto ao corpo e sociedade: mídia, estilos de vida e cultura de consumo. São Paulo: Annablume: Fapesp, 2003.



DIAS, J. A.; PEREIRA, T.R.M.; LINCOLN, P.B.; SOBRINHO R.A.S. A importância da execução de atividade física orientada: uma alternativa para o controle da doença crônica na atenção primaria. EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Nov 2007. http://www.efdeportes.com/efd114/a-importancia-da-execucao-de-atividade-fisica-orientada.htm
FEATHERSTONE, M. Cultura de consumo e pós-modernismo. São Paulo: Studio Nobel, 1993.
SANTOS, M.O.S. A tirania da magreza feminina. EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Abr 2008. http://www.efdeportes.com/efd119/a-tirania-da-magreza-feminina.htm
SERRA, Giane Molinari, Amaral; SANTOS, Elizabeth Moreira dos. Saúde e mídia na construção da obesidade e do corpo perfeito. Ciência. Saúde coletiva, São Paulo, v. 8, n. 3, 2003.

Disponível em: http://www.efdeportes.com/efd151/propaganda-de-equipamentos-de-atividade-fisica.htm Acesso em 10.12.2010

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