A República é uma mulher


Será nossa História confiável? Estou convencido, por exemplo, que Cabral aportou em Touros, no Rio Grande do Norte, e não em Porto Seguro, na Bahia. E agora temos um feriado nesta semana, da Proclamação que não foi como contam. A da Independência até faz sentido. Mas a da República tem outra história. Na verdade, foi uma quartelada restrita, sem a menor participação popular e muito menos do Exército como um todo. Havia uma soma de descontentamentos, mas naquele dia só tinha a intenção de derrubar o gabinete do Visconde do Ouro Preto, o chefe do governo de nossa monarquia parlamentar - e não de derrubar o Imperador.

Precisavam de um líder e foram buscar em casa o Marechal Deodoro da Fonseca. Deodoro estava na cama, com enfisema. Relutou mas foi convencido a sair de casa, oferecendo-lhe uma liteira para transportá-lo. Depois, conseguiram um cavalo emprestado para que ele liderasse a tropa. Deodoro não ficou muito tempo ali e voltou para casa. Dizem que ele teria tirado o chapéu, gritando "Viva a República", o que é improvável, porque ele sempre fora monarquista e amigo do Imperador. Se houve algum grito, asseguram outros, teria sido o de "Viva sua Majestade o Imperador!". Os amotinados se dirigiram ao Gabinete Ministerial para prender seu presidente, o Visconde de Ouro Preto. Que pediu a Floriano para resistir aos amotinados mas Floriano se recusou e prendeu Ouro Preto. O Barão de Ladário resistiu e levou um tiro.

O Imperador estava em Petrópolis e quando soube, tomou o trem para descer para o Rio e formar outro gabinete. Deodoro, em casa, imaginou que era isso que o Imperador faria, mas, para mudar a disposição de Deodoro, contaram a ele que o novo Presidente de Governo seria Gaspar Silveira Martins, que vinha do sul, em navio. "Esse, não!" - reagiu Deodoro, agora decidido a ceder aos republicanos. Por que "esse não"? Porque quando estava em Porto Alegre, como interventor, em 1886, Deodoro arrastava a asa para os lados da filha do Barão do Triunfo, Maria Adelaide. Mas a moça preferiu Gaspar. Como vemos, é bem significativo que a República seja simbolizada por uma mulher.

À tarde, ao saberem da disposição de Deodoro, proclamaram a república no prédio da Câmara Municipal, com um texto redigido por José do Patrocínio. Só no dia seguinte o povo soube da novidade e o Imperador, nascido no Rio de Janeiro, foi banido para a Europa. Foi com a família morar em Paris, acompanhado do Visconde de Ouro Preto. Ele reinou por 58 anos e era chamado de O Magnânimo. Transformou o Brasil numa potência emergente. Venceu a Guerra do Paraguai, pacificou os movimentos regionais, fixou nossas fronteiras, aumentando nosso território, impôs a Abolição, foi um estudioso das ciências, um erudito, amigo de Darwin, Graham-Bell, Victor Hugo, Nietzsche, Pasteur, Richard Wagner, mas foi atropelado pela República. Hoje o adjetivo republicano tem sido usado sinônimo de ética com a coisa pública. Ou como camuflagem de corrupto.
Alexandre Garcia é jornalista em Brasília e escreve semanalmente em Só Notícias

http://www.sonoticias.com.br/artigos/13/164209/a-republica-e-uma-mulher/
Um texto feminino!!!!

 

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