Blogs incentivam anorexia e bulimia

 
Meninas encontram na internet incentivo para ter o transtorno; saiba identificar o problema e procurar ajuda
Nos blogs as meninas têm Ana (anorexia) e Mia (Bulimia) como Nos blogs as meninas têm Ana (anorexia) e Mia (Bulimia) como "amigas" Shutterstock / Piotr Marcinski Um simples desejo: ser magra e linda. Essa é a motivação para tantas garotas serem “amigas de Ana e Mia”. Essas duas não representam personagens reais e sim a abreviação de doenças. A anorexia e bulimia são transtornos alimentares que podem levar à morte, mas que são exaltados na internet.

Nas páginas na internet que falam sobre Ana e Mia é possível encontrar Clara*, que começou a vomitar quando pesava 70 quilos e, em três meses, emagreceu 17. Hoje, com 64, diz que sua meta é ficar com menos de 40 quilos.

Ela conta que não se considera doente e que as pessoas que acham isso são “gordas deprimidas que não teriam nossa coragem”. Ela justifica o objetivo de ser magra dizendo que “quanto mais belo por fora, mais as pessoas te gostam, pois ninguém liga se você é belo por dentro se não tem nada a oferecer por fora”. Clara comenta também que gosta da sensação de vazio que sente ao não comer, mas que por vezes quase não suporta a dor no estômago.

A garota conta que começou a vomitar depois de sofrer bullying na escola e perceber que, ao emagrecer, recebia elogios. Criou um blog para dividir suas experiências com outras meninas que passam pela mesma situação. “Não tenho amigos, foi uma forma de eu sentir que alguém no mundo liga pra mim. Não quero isso pra ninguém”, diz.

Ponto de vista médico
De acordo com a psiquiatra do Proata (programa de assistência a pacientes com transtornos alimentares), Mara Maranhão, os transtornos alimentares normalmente vêm acompanhados de baixa autoestima, impulsividade, perfeccionismo em um contexto sociocultural que favoreça esse comportamento.

“Geralmente a pessoa inicia uma dieta comum, mas vai restringindo cada vez mais a quantidade de alimento”, diz a médica. Na tentativa de perderem cada vez mais peso as garotas praticam exercícios físicos exageradamente e comem muito pouco ou nada durante o dia. Depois de algum tempo, a menstruação começa a ser irregular, os ossos ficam frágeis e os pacientes costumam ter pressão baixa, diz a psiquiatra.

A maioria das garotas que escrevem nos blogs sobre Ana e Mia contam que tentam de todas as formas esconder o transtorno da família. Por isso a atenção de todos dentro de casa para perceber alterações no comportamento é fundamental. As meninas escrevem nos posts que costumam ir ao banheiro imediatamente após comer para poder vomitar, e usam o barulho do chuveiro como disfarce. Além disso, sempre inventam mentiras para evitar ingerir alimentos.

Para muitas garotas a superação precisa ser incentivada também através de acompanhamento psiquiátrico, reeducação alimentar e terapia em família, segundo Mara. O principal componente é a força de vontade para encarar a bulimia e anorexia como doenças.

Compulsão superada
Nem todas as meninas que começam a ser amigas de Ana e Mia continuam. É o caso de Bruna*, de 14 anos. Inspirada pelas amigas bonitas e se achando feia, ela reduziu drasticamente a quantidade de comida e começou a vomitar. Em dois meses perdeu oito quilos, mas, com a ajuda de seu atual namorado, conseguiu superar o transtorno. “Ele me pediu pra parar e por ele eu tentei”, diz. Hoje ela afirma que vê beleza nas pessoas mais “cheinhas” e que não tem mais vontade de vomitar. Além disso, ela dá uma dica para as meninas que ainda acreditam que Ana e Mia são suas amigas. “Encontrem um motivo a mais para ficar bem do jeito que são. Olhem-se no espelho e digam a si mesmas que são lindas”.

Você não está sozinha
Contrapondo esses blogs, existem muitos outros que podem ajudar quem deseja superar essas doenças. A criadora do blog “Dia de Amar seu corpo”, Natalia Bonfim, é uma delas. Ela acredita que, nos blogs que falam sobre os transtornos, as garotas buscam um espaço para ser elas mesmas e fazer amizades. “Muitas vezes estas meninas encontram-se extremamente sozinhas há muito tempo e a internet passa a ser, então, muito importante, e com razão”, diz.

Natalia também conta que o apoio em blogs é importante já que, em São Paulo, há somente dois ambulatórios especializados no tratamento de pacientes com transtornos alimentares, o Ambulim e o Proata.

As autoras do programa Help Ana e Mia, Alice Ribeiro e Victória de Almeida, também ajudam meninas que têm a compulsão. Para elas a cura vem após a pessoa mudar a forma como se vê diante da sociedade, sendo um processo de autoconhecimento, sinceridade consigo mesmo, conhecimento de pontos fracos e fortes e superação de frustrações. “devemos ter orgulho do que somos”.

*Nome fictício para preservar a identidade dos personagens

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