Beleza americana EM LIVRO???




Paulo Brito

Durante 2009, os americanos gastaram 10,5 bilhões de dólares com cirurgias plásticas de todos os tipos. É muito, mas muito dinheiro mesmo. Mais ou menos a mesma coisa que os governos do mundo inteiro decidiram destinar às vítimas do terremoto no Haiti. Ou metade do que deverá custar o nosso trem bala, entre Campinas e Rio de Janeiro. A cirurgia plástica virou moda bos Estados Unidos não porque as pessoas tenham descoberto detalhes do seu corpo para corrigir, mas porque tiveram acesso ao crédito (nem sempre barato) para isso. Essa facilidade começou há bastante tempo, ainda no governo de Ronald Reagan, entre 1981 e 1989, quando o governo reduziu impostos, entre eles o imposto de renda de pessoas físicas. No ano seguinte, a Suprema Corte permitiu que os médicos pudessem anunciar seus serviços, e então a festa começou. Daí em diante, americanos de todas as classes começaram a fazer mais lipoaspirações, correções de nariz, sobrancelhas, aumentos e diminuições em tudo o que achavam de mais ou de menos.

A professora de sociologia Laurie Essig, uma especialista em sociologia dos gêneros da universidade de Middlebury, no estado do Vermont, reuniu informações suficientes para escrever um livro sobre o assunto: “American Plastic: Boob Jobs, Credit Cards, and Our Quest for Perfection” (em português, a melhor tradução seria “Plástica americana: cirurgia nos seios, cartões de crédito e nossa busca pela perfeição”, Beacon, 219 páginas). Ela acha que em 1990 a desregulamentação dos bancos iniciada no governo Clinton permitiu a eles conceder crédito a muito mais gente. Aí é que as mulheres de baixa renda teriam passado a ver implantes de mama e abdominoplastias como uma estratégia para melhoria na carreira profissional, embora ao custo do comprometimento da sua renda.

Atualmente, o volume de dinheiro gasto com isso pelos americanos está caindo: as despesas de 2009, embora elevadas, já foram 20% inferiores às de 2007, possivelmente por causa da recessão. Isso pode ter feito muita gente optar por dietas e spas, que custam bem menos. Mesmo assim, o valor continua sendo gigantesco. Aqui, no mesmo ano de 2009, foram realizadas 457 mil cirurgias plásticas. Com esse número, somos o país recordista mundial, graças a uma reputação construída durante décadas pelo dr. Ivo Pitanguy – e arranhada periodicamente por médicos sem especialização nem escrúpulos. Laurie Essig buscou as causas para esse fenômeno em seu país e o que descobriu não é muito diferente do que já sabemos empiricamente: a maioria das pessoas busca na cirurgia plástica um remédio para as inseguranças que se originam dos seus corpos, seja no campo profissional ou no afetivo. Como o padrão de beleza e de saúde disseminado pela mídia é de corpos jovens, longilíneos, musculosos, brilhantes e com índice de massa corpórea construído nas telas dos computadores pelo Adobe Photoshop, é inevitável que uma multidão corra aos consultórios para se adaptar a esse modelo. Esse movimento, no entanto, já transformou radicalmente as relações entre essas pessoas e os médicos: se antes elas se viam apenas como pacientes de um cirurgião, agora são obrigadas a se verem como consumidores diante de prestadores de serviço. Um serviço pelo qual pagarão caro. Tanto lá quanto no Brasil, nada é barato nesse território: os bons médicos daqui costumam cobrar cerca de R$ 18 mil por um aumento de mamas e uma correção de abdome não fica por menos de R$ 13 mil.

Uma pesquisa feita em 2005 pela Associação Americana de Cirurgia Plástica mostrou que 30% dos pacientes ganhavam menos de US$ 30 mil por ano, ou seja, gente de poucas posses, enquanto 41% estava na faixa de US$ 30 mil a US$ 60 mil. Em resumo: 70% de todos os pacientes ganham no máximo US$ 40 mil por ano, o que nos EUA é a renda dos pobres e da classe média baixa. Pior, todas essas cirurgias foram financiadas com empréstimos obtidos a juros bem altos. O que Laurie Essig descobriu também é que investir milhares de dólares para corrigir uma barriga é uma reação do instinto da sobrevivência profissional: “Os corpos da classe trabalhadora tendem a ser maiores, e ela tem menos acesso a coisas como aparelhos para os dentes ou dermatologistas para manter uma pele impecável. Esses corpos também provocam mais rejeição do que os bem cuidados, das pessoas ricas”, diz ela. Passar por rico, garante a autora, acaba sendo uma defesa contra a mobilidade descendente. E às vezes isso requer uma transformação física.

A prova disso, conta em seu livro, é que ao entrevistar 140 candidatos a cirurgia plástica ela descobriu que quase todos iam entrar na faca por insegurança econômica. Parte deles com medo de perder o emprego, parte para disfarçar a idade porque tinham acabado de assumir um novo posto, ou iriam assumi-lo. Uma das pacientes, mulher com pouco mais de 50 anos que trabalha na indústria hoteleira, afirmou a Laurie Essig que hoje nem sempre importa o que você faz – importa mesmo é o que você parece. E que em 90% dos casos, as mulheres com os melhores corpos pegam os melhores empregos.

Pode não ser cem por cento verdade, mas em certos setores a aparência é mesmo fundamental – ninguém ficará muito confortável, por exemplo, de frequentar um dermatologista que tenha a pele marcada pela acne.

Disponivel em: http://pbrito.wordpress.com/2011/01/24/beleza-americana/> acesso em 4 de fevereiro
NÃO FICAMOS MUITO LONGE DESSES NÚMEROS. GASTAMOS MAIS EM PLASTICAS E ESTÉTICAS DO QUE EM CULTURA E LAZER. SERÁ QUE O CORPO ESTAMPA A FELICIDADE COMPLETA/
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