Magreza e beleza: uma clássica combinação
Por Emanuelle Romano
manuromanogl@gmail.com
Corte de cabelo, modelo de calça jeans, comprimento da saia. A cada estação, novas tendências desfilam pelas passarelas, tomam as vitrines das lojas, as ruas, os guarda-roupas. A moda, assim, vai marcando diferentes épocas e grupos, lançando novidades ou resgatando o que já foi usado no passado. Após tantos invernos e verões, entretanto, um certo padrão se mantém na crista da onda: ser magra continua em alta, estabelecendo-se, cada vez mais, como objetivo principal de quem quer ser considerada bela. Esse culto à magreza é compartilhado pela mídia e atinge principalmente as mulheres. Sofremos mais a exigência de nos enquadrarmos nos padrões de beleza presentes nas revistas, na publicidade, na TV, entre outros meios. Na sociedade moderna, o corpo magro parece ter se tornado uma chave para a felicidade e para a conquista amorosa. Mas será que sempre foi assim? Será que a beleza feminina sempre foi pintada dessa forma?
No livro “A Terceira Mulher – Permanência e Revolução do Feminino”, o filósofo francês Gilles Lipovetsky afirma que a definição de beleza sofreu profundas modificações ao longo da História, ganhando o significado atual no século XX, com o desenvolvimento das mídias. Nunca o corpo havia sido tão exposto. O cinema, as fotografias, a indústria da cultura e da moda, além de espaços de lazer como a praia contribuíram para a afirmação do padrão de beleza atual, aumentando a preocupação das mulheres com a aparência. As transformações sociais ocorridas, principalmente a partir da década de 60, como as conquistas feministas, que resultaram em uma maior participação da mulher no espaço público e no mercado de trabalho, também foram fatores importantes para essa mudança. As formas femininas opulentas, associadas à imagem da mulher-mãe, fértil, passaram a dar espaço a uma mulher mais ativa, mais inserida e destacada na vida social, até então dominada pelos homens. O próprio sistema capitalista passou a reforçar esse padrão, a fim de estimular o consumo cada vez maior de produtos e serviços de beleza.
Ao longo da chamada "ditadura da magreza", muitos ícones surgiram. Modelos esquálidas, atrizes magérrimas ou magras mais curvilíneas. Na década de 80, com a propagação da ginástica, as mulheres começaram a encher as academias em busca do corpo perfeito. A atriz americana Jane Fonda, com inesquecíveis collants, polainas e faixas de cabelo, tornou-se a guru da aeróbica através de um célebre vídeo, no qual ensinava as mulheres exercícios capazes de mandar qualquer sinal de imperfeição para o espaço. Aqui no Brasil, as academias começaram a se multiplicar nos anos 90. Desde então, popularizou-se a utilização de aparelhos de ginástica, como esteiras e bicicletas ergométricas, levadas também para dentro de casa. Surgiu, também, a figura do personal trainer e intensificaram-se os tratamentos estéticos e a disponibilidade de uma grande variedade de produtos light no mercado. Estar em forma, com tudo em cima, tornou-se palavra de ordem. Mas, por trás dessa busca pelo corpo ideal, esconde-se o risco do excesso e os problemas acarretados por ele.
O culto à magreza e suas consequências
É difícil encontrar uma mulher que se sinta completamente satisfeita com seu corpo. Estamos sempre buscando no espelho sinais de “imperfeição”: uma barriguinha saliente, culotes, flacidez... Mesmo quando para os outros tudo em nós está no lugar, continuamos buscando algum defeito. Precisamos começar uma dieta, perder “um ou dois quilinhos”, fazer uma lipo, acabar com aquela terrível celulite... Cortamos o refrigerante da nossa vida, substituímos o que podemos por alimentos menos calóricos, passamos a rejeitar os salgadinhos e o bolo de aniversário...É válido querer se sentir mais bonita, estar com tudo em cima. O que não podemos é exagerar.
Uma busca sem limites pelo corpo ideal leva muitas mulheres a dietas malucas que provocam danos à saúde. Além disso, muitas passam a desenvolver a bulimia e a anorexia nervosa, distúrbios alimentares que, entre outros graves problemas, podem levar à morte. É comum vermos na TV e nas revistas casos de mulheres que sofrem com esses transtornos. Na internet, jovens criam páginas nas quais discutem meios de emagrecer, enquanto exibem seus corpos cada vez mais magros. Vale destacar que a bulimia e a anorexia nervosa são consideradas doenças femininas, tendo em vista que a mulher sofre mais com a imposição da magreza e está mais sujeita, portanto, a práticas não recomendadas de consumo alimentar.
Cientes da influência que a moda exerce sobre muitas jovens, atualmente surgem campanhas contra grifes que utilizam em seus desfiles e editoriais modelos com perfis anoréxicos. Crescem, também, campanhas de valorização da beleza considerada “fora dos padrões”. Exemplo disso são as modelos plus size.
Sabemos que o culto à magreza e sua associação à beleza é uma influência da qual dificilmente conseguimos escapar, mas precisamos nos conscientizar de que não vale tudo para ter o corpo dos sonhos. Devemos respeitar nossos limites e ter como prioridades nossa saúde e bem-estar.
Emanuelle Romano é jornalista e amante das palavras. Segue o lema do “vivendo e aprendendo” com um pequeno ajuste: acredita que, entre os verbos, o ´se informando´ é indispensável.
http://www.oestadorj.com.br/index.php?pg=noticia&id=7382&editoria=Fitness&tipoEditoria= acesso em 25 de setmebro
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