As imagens e suas implicações - PARA LER E PENSAR

Filosofia
As imagens e suas implicações sociais
A Sociedade de consumo é influenciada e formada por informação, propaganda e publicidade, constituindo, assim, o modelo de vida moderna
por LILIANY SAMARÃO e PEDRO CALABREZ FURTADO

IMAGENS: SHUTTERSTOCK, / MONTAGEM LUCAS DE OLIVEIR
Na onda dos eventos de moda, como o Fashion Rio, realizado no Rio de Janeiro, ou o São Paulo Fashion Week, na capital paulista, sempre surgem discussões sobre moda, beleza e, uma das mais polêmicas, sobre o corpo. Baseado em tipos franzinos, magros, os corpos "da moda" são tão produtos de consumo quanto as roupas que os vestem. A polêmica dos corpos, sejam das modelos de passarelas, sejam de modelos publicitários, ganha páginas de jornais, de revistas, nas tevês por meio de imagens e representações e abre espaço para a discussão sobre como a idealização do corpo adquiriu poder ao longo do século XX, chegando ao século XXI com normas estéticas específicas. É necessário ser como as modelos: corpo plasticamente perfeito, à prova de velhice, isento de qualquer descuido ou preguiça.
A busca por definições de padrões no que diz respeito ao corpo transforma- se numa corrida rumo ao consumo. A mídia trabalha para que a sua produção de imagens chegue ao indivíduo de maneira que legitime e afirme não só o consumo, mas também os modos de sociabilidade - uma espécie de orientação sobre como viver e se relacionar em sociedade - nelas inseridos. Para isso, a mídia ensina o que, onde, quando e como consumir. Mais: ensina como devemos ser. Por meio de suas representações, o indivíduo pode se reconhecer como protagonista das imagens, espelhando-se nos modelos apresentados, fazendo da imagem midiática algo a ser copiado.
As pessoas, em particular as moradoras das grandes metrópoles, relacionam- se, diariamente, com um fluxo contínuo de imagens produzidas pela mídia. Essa "relação" não é propriamente uma novidade e já há muito tempo influencia a sociedade. Por isso, não se discute que as imagens da mídia são parte da cultura da sociedade brasileira. São imagens que se tornaram onipresentes e são responsáveis pela difusão de símbolos, culturas e informações. A socióloga Cristina Costa, em seu livro A imagem da mulher, afirma que, no cotidiano das relações sociais, as pessoas se formam no contraponto das imagens que recebem, ou seja, passa a ser um grande jogo de espelhos, fazendo o indivíduo ora se compreender ou se opor, ora se contemplar ou se estranhar.
O uso consistente de imagens - e, conseqüentemente, a freqüente inserção de representações - mostra a importância que as mesmas ocupam na sociedade. Isso porque a sociedade capitalista não só requer uma cultura baseada em imagens, como a sua produção fornece uma ideologia dominante, ou seja, oferece uma visão de como o mundo deveria ser; daquilo que compõe ou comporia um mundo melhor. Como necessita fornecer uma ampla quantidade de entretenimento, para assim estimular o consumo e anestesiar os danos causados a determinadas raças, classes sociais e sexo, a mudança social foi substituída por uma mudança nas imagens, e a mídia aproveita essa chance para criar novos estilos de vida, novos conhecimentos, novas culturas e novas representações.
Na onda dos eventos de moda, como o Fashion Rio, realizado no Rio de Janeiro, ou o São Paulo Fashion Week, na capital paulista, sempre surgem discussões sobre moda, beleza e, uma das mais polêmicas, sobre o corpo. Baseado em tipos franzinos, magros, os corpos "da moda" são tão produtos de consumo quanto as roupas que os vestem.
Do encontro entre imagem, mídia e sociedade é possível extrair um conjunto de representações que expressam força cultural e que são usadas cada vez mais com o intuito de fazer "crer", criando fenômenos totalmente midiatizados. Nasce, então, a sociedade do "parecer ser", na qual a mídia forma padrões de identidade que são estabelecidos pelo modo como o indivíduo interage com as imagens. Assim, para a pesquisadora Sandra Pesavento, no livro História e história cultural, o imaginário, a representação, a produção e a recepção dos discursos da mídia formulam a compreensão do indivíduo: ao ver as imagens, o espectador vai tomála como representação do seu cotidiano e, conseqüentemente, como um exemplo a ser seguido. Ao se tornar um "fantasma" dos modelos que circulam pela mídia, o indivíduo não só legitima a "corrida" pelo consumo como vira o próprio produto a ser consumido.
Para a mídia, a beleza, a sedução, o prazer - das cores, das formas e das linhas -, na apresentação dos produtos, parecem ser mais importantes do que a utilidade ou a funcionalidade real dos mesmos. As peças produzidas pela mídia lidam com o desejo para a produção de bens e mercadorias e, desta forma, a imagem se converte no referencial que deve ser reproduzido na vida cotidiana. Assim, as imagens se tornaram onipresentes e importantes meios para a
Pelo fato de a mídia tratar a beleza como um artigo mercantil, ou seja, como uma beleza direcionada à promoção de marcas e ao faturamento das indústrias, o eixo básico se tornou a exploração de imagens que povoam a imaginação da sociedade e que podem não ser verossímeis, mas, talvez, sejam parte das fantasias "convencionais" das pessoas. Essas imagens fazem parte das convenções ditadas pela sociedade e são convencionalmente legitimadas pela mídia, fazendo com que fantasias que antes eram do campo imaginário e solitário sejam, agora, do campo representativo e plural.
A imagem - representativa ou não do cotidiano - tornou-se parte da cultura da mídia. Buscar entender a cultura é buscar mostrar que, uma vez inserida no cotidiano dos indivíduos, a imagem é tida como um espelho da sociedade e, por meio dela, pode-se entender a cultura que ela representa. Nessa sociedade cada vez mais globalizada, capitalista e rápida, como numa frase de Guy Debord, no livro A sociedade do espetáculo, "a realidade do tempo foi substituída pela publicidade do tempo".
Assim, representado socialmente por diferentes meios, o indivíduo passa a ser um personagem midiático. Por meio de suas representações, a mídia não só aborda os produtos/serviços em si, mas passa a envolvê-los no contexto das vivências humanas, apresentando, desse modo, algumas versões dos estereótipos sociais que retratam o indivíduo.
As formas de entretenimento na mídia podem ser vistas como "válvulas de escape" substitutas das satisfações reais que não podem ser alcançadas nas condições sociais normais. São essas narrativas midiáticas que oferecem modelos para a construção do "eu" e que intensificam o consumo, reduzindo a realidade à concepção que a mídia quer que os homens façam dela.
A mídia cria novos estilos de vida, novos conhecimentos,
novas culturas e novas representações
A América Latina registra 17% do total de abortos clandestinos realizados no mundo inteiro, a África, 58%. O Brasil aparece no relatório com uma das maiores taxas da ocorrência entre os países em vias de desenvolvimento
A AÇÃO DA MÍDIA segue uma razão mercantil. Mercadológica. A premissa básica para que uma imagem da mídia exista é que ela seja mercadologicamente viável. Em outras palavras: Juliana Paes e seus contornos estampam capas de revista e outdoors, pois isso vende, trazendo resultados para as empresas envolvidas - um fabricante de cervejas, uma agência de publicidade e uma rede televisiva, por exemplo, no caso de uma propaganda - e promovendo as marcas associadas a tal imagem.
A dinâmica mercadológica é de concorrência cada vez mais acirrada. Marcas e produtos proliferam no mesmo tempo em que novos meios de comunicação surgem para atender às diversas necessidades das indústrias. A mídia inova com novos formatos de entretenimento, como os reality shows - Big Brother, Super Nanny e afins -; de informação, como as notícias jornalísticas diretamente enviadas ao celular do assinante; e de publicidade, como os advergames - jogos interativos online que têm por intuito a promoção de marcas e produtos. E esses são apenas alguns exemplos.
NESSA DINÂMICA de concorrência do mercado, explorar os meros valores funcionais daquilo que se comunica na mídia - a simples e direta narração de um fato pelo telejornal, ou a divulgação dos componentes químicos de um produto de beleza na forma de números, por exemplo -, não pareceu bastar. No próprio entretenimento oferecido pela mídia, os formatos clássicos se encontraram limitados. Houve a necessidade de revestir de inovações o que se comunicava, para diferenciar e, portanto, vender mais e melhor. O valor dos produtos - até mesmo dos produtos da indústria da mídia - deveria ultrapassar a mera utilidade e funcionalidade. Deveria possuir aquilo que se tornou jargão dos departamentos comerciais das empresas: valor agregado. Valor além daquilo que é tangível.FONTE: https://www.blogger.com/blogger.g?blogID=7416151736344300616#editor/target=post;postID=8686085886073875462

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