RJ: atriz organiza 'toplessaço' em prol da naturalização do corpo feminino
Organizadora de manifestação espera reunir pelo menos 1 mil pessoas na praia de Ipanema na manhã deste sábado
O choque causado pelos seios à mostra durante a Marcha das Vadias, realizada em julho, no Rio de Janeiro, levou a atriz e produtora de teatro Ana Rios, que participava da manifestação, a ter uma ideia: por que não fazer um topless coletivo na abertura do verão e questionar o que tem de tão errado em uma mulher sem a parte de cima da roupa?
Verão chegando, a proposta tomou força depois da publicação de uma matéria no jornal O Globo, no dia 2 de dezembro, que citava um episódio ocorrido na praia do Arpoador, em 14 de novembro. Na época, os atores Cristina Flores e Álamo Facó posavam para a campanha de divulgação da peça Cosmocartas e foram repreendidos por policiais militares quando Cristina tirou a blusa para ser fotografada.
Ana, que contabiliza ao menos outros oito casos de repressão ao topless no Rio apenas neste ano, criou no mesmo dia uma página no Facebook convidando as amigas a tirarem a parte de cima do biquíni juntas na praia de Ipanema no dia 21, abertura oficial da estação. Batizado de "toplessaço", o convite conclama mulheres, homens, crianças e idosos a tirarem o biquíni em prol do "fim da criminalizarão dos nossos corpos, das formas femininas" e, até sexta-feira, já contava com 9 mil confirmações.
"Levei um susto. Criei a página na segunda-feira à noite e chamei umas 300 amigas. Quando acordei já tinham 1,5 mil", diz Ana, que chegou a tirar a página do ar por um tempo devido ao excesso de comentários dos chamados "trolls" - internautas que tentam provocar discussões em fóruns. "Não estávamos dando conta de apagar os trolls. A gente apagava e aparecia outro e outro", conta.
Ana espera, no entanto, que entre 500 e 1 mil pessoas atendam ao chamado e tirem efetivamente a parte de cima da roupa de banho. Para ela, a manifestação é uma forma de colocar em pauta a necessidade de naturalizar o corpo feminino e não vê-lo apenas como um objeto. "A mulher é vista como propriedade ou objeto a ser desejado. A gente tem muita dificuldade de ser só pessoa. Acaba que os hábitos são todos só baseados nisso. (O topless) é uma coisa que já se estabeleceu no mundo. A gente não conseguiu isso no Brasil. A gente tem o culto ao corpo, mas não tem uma aceitação dos corpos como eles são", afirma.
A fim de aumentar a segurança de quem decidir participar do "toplessaço", a Ordem dos Advogados do Rio (OAB-RJ) e a Anistia Internacional acompanharão a manifestação, marcada para as 10h deste sábado no famoso posto 9 de Ipanema. Para Ana, que recebeu críticas de outros movimentos feministas por tratar apenas do topless no ato, tirar a parte de cima do biquíni é apenas o começo. "O mais importante é a naturalização do corpo. Por que sempre temos que lidar com o corpo como consumo ou como vergonha?", questiona.
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