Cidade Ditadura da beleza. Número de cirurgias plásticas em adolescentes cresce 141,3%

No público jovem, as intervenções cresceram em um ritmo três vezes maior do que entre adultos (38,6%). Lipoaspiração e implante de silicone nos seios são os procedimentos mais comuns
O que não faltam são incentivos. Mulheres magras, exibindo barrigas saradas e seios turbinados são destaque na televisão e em capa de revistas. Para realizar o sonho de ter um corpo o mais próximo possível do idealizado, cada vez mais mulheres têm recorrido à cirurgia plástica. Mas até que ponto essa insatisfação com o corpo afeta a vida delas? Esses procedimento são realmente necessários? As intervenções vêm sendo realizadas de forma indiscriminada, sobretudo pelo público jovem. Prova disso são os dados da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP) que apontam que, de 2008 a 2012, o número de cirurgias plásticas em adolescentes de 14 a 18 anos cresceu 141,3%.
Foram 37.470 procedimentos realizados em 2008, saltando para 91.100 no ano passado. Ritmo que supera em mais de três vezes o registrado em adultos: 38,6% – 591.260 em 2008, subindo para 819.900 em 2012. Considerando o total de intervenções realizadas, a participação dos adolescentes também apresentou crescimento. Saltou de 6% (37.740 de 629.000) para 10% (91.100 de 911.000).
Lipoaspiração e implante de silicone nos seios são os procedimentos mais realizados entre as meninas, enquanto ginecomastia (redução das mamas que crescem demais) e cirurgia de correção da orelha de abano são os mais comuns entre os meninos. O Brasil é o segundo país do mundo em número de cirurgias plásticas, atrás apenas dos Estados Unidos. Em terceiro lugar no ranking está o Japão.
Sonho
Em meio a tantas motivações meramente estéticas, em alguns casos, o procedimento é recomendado pelos médicos. É o caso da jovem Júlia Rabay, 16. Retraída por causa dos seios grandes, ela desejava, desde os 13 anos, diminuir a mama. “Os meus seios eram desproporcionais, eu me sentia desconfortável”, relata. Preocupados com a autoestima da filha, os pais resolveram satisfazer o desejo e, em 26 de junho deste ano, realizaram seu grande sonho: dar a cirurgia de diminuição da mama à filha.
Apesar de ainda estar dolorida em decorrência do período pós-operatório, Júlia é enfática ao afirmar que não se arrepende de sua decisão e diz estar totalmente satisfeita com o resultado. O sutiã, que antes era tamanho 46, diminuiu para 40. Antes de decidir pela intervenção cirúrgica, no entanto, a jovem pesquisou na internet todos os riscos que correria. Foi quando saiu com os pais em busca em um bom cirurgião plástico. “Tem gente que faz para aparecer, ela fez para se sentir melhor”, salienta o microempresário Jorge Rabay, 56, pai da jovem.
Há alguns anos, a estudante Natália Cosme Nogueira, 16, sofreu uma queda. Desde então, ficou com o nariz “feio”. Cansada de ser alvo de piadas na escola, o que a deixava para baixo, resolveu fazer uma cirurgia plástica. A ideia partiu dos próprios pais, que preocupados, perguntaram se ela gostaria de se submeter ao procedimento. Hoje, ela garante que tudo mudou em sua vida. “As pessoas me olham diferente. Até a minha autoestima eu recuperei”, comenta, reforçando que não se arrepende da decisão que tomou.
Paulo Régis Teixeira, presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP) Regional Ceará, explica que o aumento na procura por procedimentos cirúrgicos de caráter estéticos se deve pela facilidade de acesso à informação que as pessoas estão tendo, o que ajudou a desmistificar a cirurgia plástica.
Houve também uma melhora na situação sócio-econômica da população brasileira, fazendo com que parte dos pacientes, que antes não tinham acesso a esse tipo de procedimento, agora passassem a ter. Outro fator que contribuiu foi o aumento dos serviços de cirurgia plástica. Hoje, existem em todo o Estado em torno de 130 profissionais, entre cirurgiões plásticos e residentes de cirurgia plástica.
No Ceará, os serviços de residência desta especialidade existem no Hospital Geral de Fortaleza (HGF), Instituto Doutor José Frota (IJF) e na Faculdade de Medicina. O especialista comenta que a lipoaspiração e o implante de silicone passaram a ser os procedimentos mais procurados tanto pelas pessoas de mais idade quanto pelos adolescentes. “Hoje, as pessoas procuram o cirurgião muito cedo e as adolescentes estão nesse hall. Ficou uma coisa meio que de moda”, ressalta. No caso da prótese de mama, Teixeira reconhece que há cerca banalização.
O médico conta que frequentemente acontece de meninas, em vez de fazerem uma festa de 15 anos, como tradicionalmente acontece, pedirem aos pais uma cirurgia plástica de presente. “Os pais se preocupam, mas quando são casos realmente necessários eles estimulam a fazer”, frisa. O especialista acrescenta que, com os resultados, muitas vezes é possível mudar a personalidade da pessoa. “Tive um professor que dizia que o cirurgião plástico é um psiquiatra com bisturi na mão”, conta.
Estatísticas
Como grande parte das cirurgias estéticas são particulares, a SBCP não sabe estimar quantos procedimentos são realizados, por ano, no Ceará. Como também não existe uma tabela de preços, os valores variam bastante, de acordo com o procedimento e profissional escolhidos. “Para cirurgia estética, o preço não é fixo”, enfatiza Teixeira.
Para evitar maiores riscos, o presidente da Sociedade chama atenção para as propagandas que se disseminam na televisão e em revistas anunciando a chamada medicina estética. Ele alerta que não existe essa especialidade no Conselho Federal de Medicina (CFM). “Qualquer procedimento cirúrgico envolve riscos, mas no caso de um cirurgião plástico, a pessoa pelo menos tem a segurança de que está sendo operada por um profissional treinado para isso”, destaca.
Saiba mais
1. Procure realizar um check-up antes de se submeter a uma cirurgia plástica. Exame de sangue, hemograma, coagulograma, raio-x de tórax. É preciso fazer um exame clínico e laboratorial completo desse paciente
2. Se informe com quem você vai se operar e se o médico é especialista da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP)
3. O local onde o procedimento vai ser feito é outro ponto importante. Hoje, praticamente não se faz mais cirurgia plástica em clínicas, a maioria é feita em hospitais, com todas as condições necessárias, com Unidade de Terapia Intensiva (UTI). Intervenções maiores têm que ser feitas nessas condições
4. O acompanhamento pós-operatório é outro ponto importante. Não é somente a cirurgia em si que vai resolver o problema. Existem mecanismos que ajudam na recuperação desses pacientes, como a fisioterapia com drenagem linfática. Maior parte dos pacientes já está recuperada com 30 dias
5. Procure se informar sobre as cirurgias que o médico que você está se consultando já fez, se ele foi bem-sucedido, se os resultados foram bons. Isso é importante, é a segurança para o paciente
 
SALVEM NOSSOS CORPOS DE TANTA BELEZA

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