AME SEU CORPO

Por Eliza Sampaio Quinteiro – Nutricionista
Em termos biológicos, o ser humano necessita alimentar-se com certa regularidade para manter seus sistemas orgânicos íntegros e funcionantes, suas células supridas em nutrientes e energia. Entender plenamente o processo da alimentação e da nutrição humanas em sua complexidade fisiológica e bioquímica é tarefa das que exigem extrema dedicação. No entanto, não menos complexos são os determinantes do comportamento alimentar humano.




Você já parou pra pensar que fatores interferem em suas escolhas alimentares?



Inscrita na origem cultural do homem, a alimentação, muito além de mero ato inerente à sobrevivência, pode ser considerada um modo de comunicação e de relacionamento humanos. Nossas escolhas alimentares envolvem nossa história familiar, nossas lembranças e fantasias conscientes e inconscientes, emoções e sentimentos, enfim, uma enorme gama de fatores subjetivos e característicos de cada um de nós. Alguns autores afirmam que nossos hábitos alimentares de hoje podem estar intimamente ligados à primeira experiência de vida de cada um com a mais vital das atividades: o aleitamento materno. A amamentação registra no recém-nascido o seu primeiro contato com o mundo e a maneira como vai experimentar e aprender sobre ele.



A subjetividade do ato de alimentar-se anda lado a lado com os fatores culturais da sociedade na qual estamos inseridos. Vivemos em uma época marcada pelo individualismo extremo e pela exaltação do narcisismo, do culto ao corpo, uma época na qual somos considerados os responsáveis por tudo o que ocorre em nossa existência. Pelos sucessos e pelos fracassos. Somando-se a isso, existe uma facilidade enorme de valorizarmos muito mais nossos insucessos do que tudo aquilo em que somos bem sucedidos. Em síntese, se somos os senhores de tudo, precisamos nos manter sempre jovens, fortes e saudáveis. E a alimentação é parte fundamental desse processo. Equivocadamente associa-se a forma física ao (in)sucesso: estar acima do peso “ideal” é falha de caráter e quem se enquadra nesse perfil está fadado à infelicidade, é fraco e irresponsável. Ter um corpo magro não representa mais apenas se encaixar em um cânone de beleza, representa também estar inserida em um modelo de consumo. Onde fomos parar…



Comer nunca foi tão chato. Fala-se tanto no binômio alimentação-saúde (e também no binômio exercício físico-saúde), já que precisamos buscar a saúde de uma forma muitas vezes contraditória, que estamos nos esquecendo de que a alimentação, antes de qualquer coisa, é prazer. Ninguém come papel. Ou pelo menos não deveria. O cheiro do bolo assando no forno, a sopa de mandioquinha fervendo na panela, a manteiga fresca derretendo no pão quentinho, nada disso nos é permitido e muitas vezes somos nós mesmos que nos privamos de tantas boas sensações que a alimentação nos trás porque nos deixamos levar pelo que é externo e avesso a nós mesmos. Deixamos de nos ouvir. Os fast foods, tão característicos da nossa era, nos induz a comer de uma forma curiosa: mesmo acompanhados, comemos sozinhos. E comemos mais. Cada um com a sua porção do alimento escolhido. O comer em conjunto – com a família, principalmente – já não é mais tão frequente. Cada um come no horário que dá, do jeito que dá, na companhia do notebook, ou do tablet, ou do celular. No fundo, a grande característica da nossa geração é o desamparo.



Claro, é importante cuidar da saúde e claro, alguns alimentos são mais saudáveis do que outros. Nos resta analisar como o alimento se transformou em um inimigo social, gerador de sentimentos como angústias e culpa. A comida impõe-se como algo ora fascinante, ora pecaminoso. As pesquisas na área da nutrição avançam absurdamente e os alimentos que ontem eram desaconselhados, hoje são as estrelas. Quer um exemplo? O óleo de coco. Ora vilão, ora super-heroi.



Fica então um convite: olhe para dentro de você. Procure as suas próprias razões. Não exteriorize seus hábitos, não coloque toda a sua expectativa nas mãos do outro, seja esse outro quem for, até mesmo o “especialista”. Pare de contar calorias, ou pontos, ou notas. Informe-se, sim, sempre, mas seja seletivo(a), nem sempre a informação é relevante, ou confiável. E permita-se, como já escrevi em um texto anterior, a experimentar o que é novo – um sabor, um hábito. Intua. Quem sabe de você é você.



E citando Lia Ades Gabbay, psicóloga de quem sou seguidora assídua e cujos textos me inspiram sempre e me inspiraram para a escrita deste: “(…) abra seu foco de visão (…). Você sai do caos, vê sua extensão e enxerga possíveis saídas.”.



baseado em: Nutrição em Psiquiatria – Cordás, T.A. e cols. Artmed, 2010.

http://senhoritag.com/2012/02/06/intua/ acessoi em 11 de fevereiro
 
SALVEM OS CORPOS APRISIONADOS PELAS REGRAS E VIGILANCIAS

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

E a vigorexia anda à solta!!!!

Vítima de anorexia, Carola Scarpa morre em São Paulo

Homens superam preconceitos e aderem ao silicone para turbinar o corpo