PSICOLOGIA QUESTIONA A DITADURA DA MODA
Marjorie Vicente cursou a faculdade de psicologia, mas não se deu por satisfeita. Paralelamente, estudou a imagem corporal através da moda. Após a formação acadêmica, passou uma temporada no exterior aprimorando os conhecimentos em Consultoria de Imagem, fazendo o planejamento de Branding sobre Psicologia de Imagem e participando de Workshops e Curso de Extensão em Distúrbios Alimentares.
Hoje, a ideia central de seu trabalho é lidar com o conflito entre a imagem real e a imagem desejada. A profissional utiliza ferramentas como a Empatia, Aceitação Incondicional Positiva e Congruência (Abordagem Centrada na Pessoa), e atua como uma “parceira” na exploração do auto-conceito e dos desejos mais íntimos de seus clientes, muitas vezes, revelados só para o espelho.
P: Por que fala-se tanto em valorização da imagem ?
R: Cada vez mais a sociedade atual dá importância ao uso de imagens na comunicação, propagandas, rótulos de produtos. Em tudo o que consumimos e acreditamos percebe-se o conceito da Psicologia de Imagem. Hoje, a aparência é propulsora de êxitos e fracassos. A publicidade, por exemplo, incentiva as vantagens de um “corpo ideal”; empresas se preocupam com a mensagem passada pelos seus colaboradores através da linguagem não verbal e seres humanos se submetem a uma verdadeira ditadura em busca de uma beleza que sequer existe. Na contramão do avanço da independência feminina, a ditadura da beleza continua aprisionando as mulheres do século 21, tornando-as vulneráveis a cada capa de revista, dieta da moda, novos métodos para promover o rejuvenescimento, enfim, vale tudo para alcançar o padrão estabelecido.
P: Dê-nos um exemplo real dessa ditadura da beleza ?
R:. Um exemplo recente é Cristiana Oliveira, que já chegou a pesar 105 kg na adolescência, e saltou dos 61kg para os 76kg nos últimos meses para dar vida à “Araci”, uma detenta barra pesada e homossexual, na atual novela “Insensato Coração”, da Rede Globo. Ao invés da admiração pela dedicação e entrega à personagem, ela ouviu críticas. As pessoas comentavam que ela tinha “embagulhado”. A atriz confessa que já se submeteu à ditadura da magreza e chegou a pesar 55kg. Era elogiada nas ruas, mas quando chegava em casa e passava fome, chorava sozinha. Com o tempo, encontrou seu equilíbrio nos 61kg.
P: Você defende uma revolução contra a beleza ?
R: Defendo uma busca pelo que é se sentir bem de forma individual. Acho injusto que mulheres - que hoje não mais dependem de uma muleta emocional e que arriscam casamentos, empregos e o que mais for necessário em busca da própria felicidade - ainda se sintam escravizadas por algo tão íntimo e pessoal, o padrão de seu próprio corpo. Está mais do que na hora de ponderar o limite do saudável e entender a real motivação para esse tipo de atitude.
P: Explique como é o trabalho de Psicologia da Imagem ?
R: Ele aborda diversos nichos e aspectos em torno da imagem: seja para promover consultoria a uma imagem pública ou corporativa, auxiliar com os conflitos existentes entre a imagem real e aquela desejada, estimular estilos e personalidades a partir de estudos da imagem corporal no meio da Moda ou trabalhar transtornos alimentares. A Psicologia de Imagem, a partir da Abordagem Centrada na Pessoa, é baseada nos valores que carrego para minha vida: a empatia, congruência e aceitação positiva incondicional. Ou seja, a partir de um trabalho que está dentro da linha Humanista da Psicologia, a proposta é aceitar os clientes incondicionalmente nesta relação e, ao lado deles, buscar o equilíbrio entre as imagens real e a desejada. Ou nos casos de pessoas que sofrem com as distorções de imagem, equilibrar o que é a imagem real e aquela percebida pelo cliente.
P: Você se posiciona contra moda e tendência ?
R: Não sou contrária a essas influências, mas acredito que a aplicabilidade do modismo pode ser consciente e equilibrada. As premissas que geram o aceitamento total e integral do próximo sempre deveriam fazer parte de nossas relações. Isso permitiria que as pessoas revelassem seus verdadeiros “eus” mais facilmente.
P: Como analisa o comportamento brasileiro de consumo do século 21 ?
R: Ele se encaixa no modelo de consumo emocional, que visa não apenas o que é útil, mas sim, o que vai além dos aspectos funcionais e satisfaz os desejos, mexe com as emoções. O que se percebe é a busca pela identidade e diferenciação através das aquisições. O consumidor brasileiro deseja diferenciar-se através do que possui e sentir-se membro pertencente de um grupo restrito. Por este motivo, o conhecimento sobre todo tipo de comportamento é extremamente importante para o marketing das grandes marcas. É preciso estar antenado com o que acontece nas ruas, nos shoppings, no trabalho, nas academias, nos parques etc, pois, em cada produto que exibe, o consumidor deseja expressar o seu estilo de vida. Ele se revela através das escolhas, até mesmo das que pareçam banais à primeira vista.
P: Como funciona o atendimento em casos de transtornos alimentares?
R: Meu atendimento na Clínica Montenegro de Cirurgia Plástica é dinâmico e de mobilidade ímpar. Em casos como distúrbios alimentares, por exemplo, gosto de entender o mundo do cliente por completo, inclusive acompanhando-o em atividades do dia a dia, como rotinas de exercícios ou compras ao supermercado. Preciso saber “que emoção” está sendo ingerida. Costumo dizer que os transtornos alimentares são formas ineficazes de lidar com problemas reais.
P: Quais outras atividades você desenvolve ?
R: Além do atendimento clínico, também presto consultoria em agências de modelo, realizo projetos direcionados aos artistas, celebridades e demais pessoas públicas, desenvolvo planos de Psicologia de Imagem para o meio corporativo e faço consultoria de estilo personalizada.
P: Como se processa trabalho de consultoria de imagem ?
R: Ele vai além de uma análise de combinações de peças e tendências. Abrange um estudo de hábitos e comportamentos que acabam definindo estilo e personalidade. Além de pensar que tipo de mensagem estamos passando, devemos refletir sobre o “lifestyle” adotado e o grau de satisfação relacionado a isto. Uma de minhas clientes, por exemplo, percebeu que seu closet estava repleto de opções de roupas para o trabalho. E que, nos finais de semana, usava apenas peças de ginástica. Essa constatação a fez pensar nas reclamações dos filhos e do companheiro que ela só dava atenção à vida profissional. Até mesmo seu closet refletia essa prioridade!
P: Você também oferece atendimento clínico ?
R: Sim. Trabalho com todas as questões que despertam o conflito com a imagem: os transtornos alimentares, as cirurgias estéticas, a dismorfofobia, o pré e o pós das cirurgias bariátricas, o bullying, entre outros. Esse tipo de atendimento é extremamente importante para a sociedade que criamos hoje. A ideia de um “corpo ideal” leva a uma ditadura desnecessária. Em tais casos, o trabalho da Psicologia de Imagem é evidenciar o limite do que é saudável e entender a real motivação para mudanças.
P: Como funciona a Consultoria de Imagem Corporativa ?
R: Para os profissionais, costumo destacar que a importância da imagem não é evidente apenas em suas vestimentas e apresentação inicial em uma entrevista, mas em todos os dias dentro de uma corporação. Sob este ponto de vista, inovo propondo uma Consultoria de Imagem Laboral, voltada ao entendimento da importância da imagem profissional; adequação do vestuário de acordo com o ramo de atividades, valores e cultura da empresa; estudo de cores baseado na mensagem implícita adequada para o meio profissional; considerações sobre estampas e acessórios; e por fim, o que é ou não apropriado para o “casual day”.
P: Como é seu trabalho em agências de moda ?
R: Nesse setor, exploro questões importantes para as modelos: o uso da imagem pública, a importância do estilo e dos padrões estéticos que essa profissão exige. Os encontros, normalmente, são realizados na própria agência e o projeto é realizado de forma exclusiva, respeitando a ideia de que cada caso é um caso. Procuro desenvolver com as modelos caminhos equilibrados
disponivel:http://www.modosemodas.com.br/interna.php?id=185 acesso em 8 de junho
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