Cirurgia plástica no nariz gera polêmica na Bolívia
A polêmica da vez na Bolívia tem a forma de um nariz adunco, com o “ossinho alto”, chamado também, pelos bolivianos, de “nariz andino”. Essa é a forma. Quanto ao mérito da polêmica, para uns tal nariz é um problema estético que provoca danos na autoestima. Para outros, é o símbolo da etnia indígena aimará, a mesma do presidente Evo Morales e de grande parte dos bolivianos.
O cirurgião Gerardo Murillo, da Clínica del Sur, de La Paz, assegura que atualmente, no universo de cirurgias plásticas, por volta de 50% são rinoplastias (operações de nariz). É, disparado, a plástica mais procurada no país, contrastando com uma pesquisa da Sociedade Internacional de Cirurgia Plástica divulgada em agosto, segundo a qual a operação de nariz aparece em quarto lugar na preferência ao redor do mundo.
A explicação que Murillo dá para o que define como “moda” só atiça a polêmica:
— Há muita demanda para estética de nariz. É moda. As pessoas querem melhorar a aparência, querem parecer artistas de cinema.
Mas por que agora?
— Porque há certa bonança econômica na Bolívia. Geralmente, quem procura a clínica é gente que tem os traços fortes, o nariz bem pronunciado. Na minha clínica, 43% das plásticas têm o objetivo de corrigir o nariz. As pessoas não querem ter o nariz como o do presidente.
E o presidente, um empedernido defensor do “orgulho indígena”? Bem, apesar de seu governo até subsidiar algumas das cirurgias, por considerá-las uma forma de melhorar a autoestima, Evo Morales, particularmente, torce seu pronunciado nariz andino para a tal moda.
— Não podemos perder nossa identidade, nossos sobrenomes. Não posso perder meu nariz — disse, no ano passado, em pronunciamento realizado para explicar que uma cirurgia à qual se submetera, no nariz, não tinha fins estéticos, mas sim de corrigir um desvio do septo nasal.
A operação, segundo Evo Morales, “não era para melhorar, mas sim para destapar”. E ele ainda mostrou bem o nariz, aos fotógrafos, para comprovar que continuava com o “formato de papagaio”.
Mas o apelo da sociedade é alto, e as mulheres, especialmente, correm às clínicas. Há casos até de as cirurgias serem presentes de aniversário. Namorados as dão para namoradas, e vice-versa. Por conta disso, os preços, que normalmente giram em torno de R$ 1,1 mil, foram reduzidos radicalmente. Algumas clínicas oferecem descontos em panfletos distribuídos por crianças pelas ruas de La Paz e Santa Cruz de la Sierra.
— Essa história de identidade é bobagem. Para mim, era uma questão psicológica importante, até porque o padrão de beleza ocidental é o mais aceito. Há racismo nisso, sim, mas está entranhado na nossa sociedade — explica a administradora de empresa Verónica, 31 anos, que, constrangida, não quis revelar seu sobrenome e muito menos permitir fotos.
70% de indígenas
A febre das plásticas ganha contornos de polêmica pronunciados como o ossinho do nariz andino. Por um motivo bastante especial: Morales tem no combate ao racismo um dos pilares do “processo de descolonização” boliviano, o que mexe com assuntos delicados, em um país no qual pelo menos 70% da população é indígena ou mestiça.
Por exemplo, a lei antirracismo. Sancionada recentemente, ela chega a prever o fechamento do jornal ou da emissora de TV que veicule algum conteúdo tido como racista. Jornalistas de todo o mundo e, sobretudo, a Sociedade Interamericana da Imprensa (SIP) fizeram fortes críticas ao conteúdo da norma, por verem-na como um pretexto para a adoção da censura.
Pouco se importando com a polêmica, brasileiros — em sua maioria, mulheres — têm aproveitado os preços convidativos e atravessado a fronteira. Pela estrada que liga Cáceres (MT) a San Mathias, por exemplo, têm adotado o costume de seguir em excursões para Santa Cruz de la Sierra.
Em vez de turismo, buscam mudar os contornos do próprio corpo.
disponivel em: http://www.boliviacultural.com.br/ver_noticias.php?id=249 acesso em 28 de junho
O cirurgião Gerardo Murillo, da Clínica del Sur, de La Paz, assegura que atualmente, no universo de cirurgias plásticas, por volta de 50% são rinoplastias (operações de nariz). É, disparado, a plástica mais procurada no país, contrastando com uma pesquisa da Sociedade Internacional de Cirurgia Plástica divulgada em agosto, segundo a qual a operação de nariz aparece em quarto lugar na preferência ao redor do mundo.
A explicação que Murillo dá para o que define como “moda” só atiça a polêmica:
— Há muita demanda para estética de nariz. É moda. As pessoas querem melhorar a aparência, querem parecer artistas de cinema.
Mas por que agora?
— Porque há certa bonança econômica na Bolívia. Geralmente, quem procura a clínica é gente que tem os traços fortes, o nariz bem pronunciado. Na minha clínica, 43% das plásticas têm o objetivo de corrigir o nariz. As pessoas não querem ter o nariz como o do presidente.
E o presidente, um empedernido defensor do “orgulho indígena”? Bem, apesar de seu governo até subsidiar algumas das cirurgias, por considerá-las uma forma de melhorar a autoestima, Evo Morales, particularmente, torce seu pronunciado nariz andino para a tal moda.
— Não podemos perder nossa identidade, nossos sobrenomes. Não posso perder meu nariz — disse, no ano passado, em pronunciamento realizado para explicar que uma cirurgia à qual se submetera, no nariz, não tinha fins estéticos, mas sim de corrigir um desvio do septo nasal.
A operação, segundo Evo Morales, “não era para melhorar, mas sim para destapar”. E ele ainda mostrou bem o nariz, aos fotógrafos, para comprovar que continuava com o “formato de papagaio”.
Mas o apelo da sociedade é alto, e as mulheres, especialmente, correm às clínicas. Há casos até de as cirurgias serem presentes de aniversário. Namorados as dão para namoradas, e vice-versa. Por conta disso, os preços, que normalmente giram em torno de R$ 1,1 mil, foram reduzidos radicalmente. Algumas clínicas oferecem descontos em panfletos distribuídos por crianças pelas ruas de La Paz e Santa Cruz de la Sierra.
— Essa história de identidade é bobagem. Para mim, era uma questão psicológica importante, até porque o padrão de beleza ocidental é o mais aceito. Há racismo nisso, sim, mas está entranhado na nossa sociedade — explica a administradora de empresa Verónica, 31 anos, que, constrangida, não quis revelar seu sobrenome e muito menos permitir fotos.
70% de indígenas
A febre das plásticas ganha contornos de polêmica pronunciados como o ossinho do nariz andino. Por um motivo bastante especial: Morales tem no combate ao racismo um dos pilares do “processo de descolonização” boliviano, o que mexe com assuntos delicados, em um país no qual pelo menos 70% da população é indígena ou mestiça.
Por exemplo, a lei antirracismo. Sancionada recentemente, ela chega a prever o fechamento do jornal ou da emissora de TV que veicule algum conteúdo tido como racista. Jornalistas de todo o mundo e, sobretudo, a Sociedade Interamericana da Imprensa (SIP) fizeram fortes críticas ao conteúdo da norma, por verem-na como um pretexto para a adoção da censura.
Pouco se importando com a polêmica, brasileiros — em sua maioria, mulheres — têm aproveitado os preços convidativos e atravessado a fronteira. Pela estrada que liga Cáceres (MT) a San Mathias, por exemplo, têm adotado o costume de seguir em excursões para Santa Cruz de la Sierra.
Em vez de turismo, buscam mudar os contornos do próprio corpo.
disponivel em: http://www.boliviacultural.com.br/ver_noticias.php?id=249 acesso em 28 de junho
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