Quanto vale um corpo perfeito

Publicação: 30 de Janeiro de 2011 às 00:
Rosa Lúcia Andrade - Repórter

Ser capaz de enfrentar qualquer sacrifício em favor da boa forma parece estar mais perto da realidade brasileira nos últimos tempos. As academias se proliferam pelas ruas das cidades, assim como salões de beleza com fórmulas mágicas de redução de medidas do corpo prometendo à mulher – e por que não ao homem também? - entrar naquele jeans tamanho 38, para ela. E vale também arriscar uma lipoaspiração e muitas pessoas estão recorrendo, embora a princípio a indicação deva ser exclusivamente para a boa saúde, à cirurgia bariátrica, a de redução de estômago, para ter aquele corpo que talvez nunca nem tivesse sonhado em ter.
Alguns médicos chegam a arriscar que as cirurgias plásticas tenham aumentado em quantidade, perto de 100%, na última década. Incluindo aí lipoaspiração, colocação de prótese de silicone nos seios e glúteos, correção de barriga flácida, entre outras. As próteses vêm sendo procuradas por uma camada cada vez mais jovem de pacientes. E de diferentes classes sociais. São alertados de todos os riscos, mas minimizados em favor da vontade. O que se quer, cada vez mais, é ficar em forma, com corpo de capa de revista e poder sorrir para a vida quando se olhar no espelho.
Embora algumas pessoas admitam que há mudanças na vida quando atingem o objetivo da beleza do corpo, muitas afirmam não ser seguidoras de padrões, escravas da imagem. Alegam que, problemas como seios muito pequenos, atrapalhavam a auto-estima. E como há facilidades no mercado das cirurgias, por que não aproveitar?
Modelar o corpo numa academia ainda é forma mais frequente, fácil e acessível, mas aqueles outros recursos, como massagens, drenagens linfáticas que, com a eliminação de líquido ajuda a reduzir medidas, têm sido ótimos aliados. Esses tratamentos não são tão acessíveis, mas se a questão é quanto custa, pode-se resolver muito bem sem necessitar passar por cirurgia, como afirmam os profissionais. Mas tudo depende do perfil do cliente/paciente.
Se for uma pessoa fácil de seguir uma disciplina de exercícios físicos mais uma boa dieta alimentar o resultado alcançado também vale muitos elogios. Mas é claro que, quando o problema é gordura extra mesmo, há casos em que a solução tem que ser extrema. Embora depois de esculpir o corpo ainda tenha de seguir uma rotina de academia e idas ao nutricionista.

Opções são variadas para modelar o corpo
Olhar uma foto e enxergar o que não se quer, geralmente é o que desperta uma pessoa à possibilidade de correr atrás de treinos e tratamentos mais radicais para se chegar ao corpo ideal. Não importando muito o sacrifício que terá de passar para atingir seu objetivo. É nesse ritmo que as academias vem apresentando cada vez mais opções de treinos – há quem aposte em novas opções a cada ano – e as clínicas de estética sempre mudem as técnicas já existentes por novidades para não ficar para trás.
Os gastos médios anuais com academias, nutricionistas e clínicas de estética para tratar o corpo ficam em torno de R$ 12 mil, em média, para uma pessoa. Levando-se em conta nesse cálculo quatro consultas ao nutricionista, 12 meses de academia num preço médio de R$ 130,00 e tratamentos ao preço de R$ 500,00 12 sessões. Mas se você acha pouco, há tabelas bem mais caras para atender um público mais exigente ainda. E há também outros recursos mais caros, se o dinheiro não for problema.
Decisão
Numa situação extrema, o gerente executivo de uma corretora de seguros, Altevir Fernandes de Queiroz Júnior, 43, decidiu ir a um cirurgião plástico há quatro anos na tentativa de “tirar” a barriga que, para ele, era o único problema das suas limitações físicas. Na primeira consulta com o médico ele recebeu a sugestão de procurar um gastro-cirurgião para ver a possibilidade da cirurgia de redução de estômago. Foi difícil assimilar a ideia, mas com o decorrer dos exames viu que era necessário tomar decisão tão radical.
No caso de Júnior, que não conseguia acompanhar seus amigos nem mesmo em festas como o Carnatal devido à exigência de esforço físico, a saída era essa. Júnior conta que não se enxergava gordo. Mas hoje reconhece a satisfação de entrar em qualquer loja de roupa e comprar o que quiser. “As pessoas até falam: Júnior, cuidado, isso aí não é mais para você”, brinca.
Ele não é nenhum seguidor sem limites de moda, mas reconhece que muita coisa mudou sim. Que ser magro, ter capacidade física e caber em roupas da loja que escolher também é muito bom. Depois da cirurgia bariátrica, ganhou fôlego para encarar exercícios físicos – antes só cavalgava e jogava boliche como diversão -, frequenta até hoje o consultório de um nutricionista e ano passado fez a cirurgia plástica de correção da barriga, necessária devido à perda excessiva de peso. Antes, pesava 140kg, atualmente fica em torno de 68 a 72kg com 1,63m de altura. Seu gasto médio anual com a nova vida de bem com o corpo é de aproximadamente R$ 9 mil.

A mesma satisfação é reconhecida pela arquiteta Tatiana Gurgel, 32. Quando resolveu vencer o medo da cirurgia, aos 28 anos de idade, ela já estava cansada de passar várias vezes pelo processo considerado o pior efeito em quem luta contra a balança, o efeito sanfona: emagrece e engorda, repetidas vezes. Desde os 11 anos de idade que passava por isso e pior, quando voltava a engordar chegava a um peso sempre maior do que antes de emagrecer.
Para Tatiana também valeu a pena o investimento que fez. Um investimento em alta-estima, pode-se dizer. Aquele constrangimento de entrar numa loja e perguntar, antes de escolher a roupa, se lá tem o número dela, acabou. E com isso a frustração também, já que a ditadura da moda não muda muito com suas numerações sempre pequenas.
Tatiana investiu em tratamento psicológico, como a maioria dos pacientes desta cirurgia, e além disso calcula uma média de R$ 3,5 mil com gastos com a cirurgia. Depois, os gastos continuaram: quase R$ 1 mil com academia em um ano, mais oito meses com personal trainer por um salário mínimo por mês. Mas garante, está feliz. “Tudo isso que estou passando ainda valeu a pena e recomendo para quem está até com obesidade 1, o grau mais baixo”, afirma, depois de ter perdido 45kg e ter uma vida voltada para o bem estar.

Cirurgias plásticas ganham adeptos cada vez mais
Para se chegar ao padrão de beleza instituído vale tudo. Para muitas pessoas recursos mais caros e complexos, como as cirurgias plásticas podem, sim, fazer parte do projeto de vida para se viver melhor consigo ao se olhar no espelho. E quando o resultado desejado não depende de exercícios físicos e nem de nutrição, como os casos, por exemplo, de cirurgias de busto (a maioria delas buscando o aumento do número do sutiã das mulheres) o jeito mesmo é cair em campo e buscar a indicação de um bom cirurgião.

Os casos de cirurgias plásticas, atualmente mais em mulheres e cada vez mais entre as mais jovens, está virando conversa entre as mais variadas camadas sociais. O que antes parecia inatingível pelos altos custos, agora é se programar, calcular e ver o melhor custo/benefício. Pessoas da classe média estão lotando clínicas bem conceituadas da capital e escolhendo bons produtos, quando se trata de próteses, seja para busto ou glúteos, como vem sendo observada a maior busca. A lipoaspiração também vem fazendo parte do cardápio de opções para quem quer ficar dentro do padrão ideal de corpo tido como perfeito.

Aos 20 anos a estudante de medicina Gláucia Parente não ia à praia mesmo morando numa cidade litorânea. O problema não era fugir do sol, mas dos olhares que ela achava que estavam sempre nela quando vestia um biquíni. Os seios pequenos, para ela, chamavam a atenção de todos. Embora insatisfeita e limitada a usar roupas que não mostrasse seu busto – nada de decotes e alcinhas – tinha medo de enfrentar uma cirurgia de prótese de silicone.
“Tinha medo e fui a vários médicos até decidir fazer e como fazer”, diz Gláucia. Ela levou em conta a forma como a cirurgia foi apresentada a ela por cada profissional. “Não me arrependo. A recuperação foi tudo bem e pensei que fosse ser pior”, avalia.

Como Gláucia, várias adolescentes estão indo para as salas de cirurgias para colocar prótese de silicone nos seios. Os médicos afirmam que a procura está cada vez maior de jovens que buscam as próteses (busto e glúteos) e as lipoaspirações mudando um quadro que até 20 anos atrás era restrito a mulheres com mais de 40 anos, procurando os procedimentos de rejuvenescimento.

O gasto médio de uma cirurgia como a de Gláucia fica em torno de R$ 8,5 mil. A prótese escolhida é um pouco mais cara pelo modelo, em forma de gota e que garante um efeito bem natural começando o volume no colo e descendo para a área da mama, além de ter uma durabilidade maior. Mas para ela valeu a pena o investimento para poder passar do número do sutiã do 36 para o 42.

bate-papo: Charles Sá» cirurgião plástico

NADA CONTRA AS METAMORFÓSES PROMETIDAS COM AS CIRURGIAS PLÁSTICAS, MAS PODEMOS NOTAR QUE ENCONTRAMOS  PALAVRAS COMO; ADEPTOS, SACRIFÍCIOS, PROJETO DE VIDA NO TEXTO, COMO SE PERFEIÇÃO ESTÉTICA FOSSE UMA RELEGIÃO. SERÁ QUE PRECISAMOS DE MAIS UMA CRENÇA? COMENTEM

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