Transtornos de imagem crescem no verão
Saiba como a identificar os distúrbios
Familiares precisam estar atentos aos sintomas
KAMILA ALMEIDA
kamila.almeida@zerohora.com.br
A imagem do corpo extremamente magro da modelo e atriz francesa Isabelle Caro chocou o mundo em 2007. Isabelle, que havia entrado em coma um ano antes ao pesar 25 quilos — ela media 1m65cm — , tornou-se símbolo de uma campanha contra a anorexia. No ano passado, anunciou que chegara aos 42 quilos, mas acabou morrendo no dia 17 de novembro, aos 28 anos, o que só foi revelado em dezembro. O fato levantou novamente a polêmica sobre os transtornos de imagem relacionados ao perfil de beleza que nunca é atingido.
Considerada um problema psiquiátrico, a anorexia é um dos que mais matam — de 20% a 25% dos casos resultam em falência do organismo. Uma boa parcela acaba em internação hospitalar e a maioria consegue conviver bem com a doença ao longo da vida. Assim, aconteceu com a jovem N.*, 20 anos.
Há cinco anos, após uma crise de fúria, precisou ser internada durante um mês. O ataque foi desencadeado depois que a mãe insistiu que a filha comesse uma fatia de bolo. Após receber alta, precisou tomar cinco tipos diferentes de remédios para aplacar a ansiedade e a depressão.
— Em momentos de crise, cheguei a beber xampu para vomitar. Queria parar de me sentir gorda, nojenta. Me chamavam de esquelética, mas a imagem que eu via o espelho refletir era de uma obesa — conta a jovem, que cursa Nutrição e mora em Canoas.
Medindo 1m58cm, a jovem chegou a pesar 35 quilos. Hoje mantém 43 quilos. Não era o caso de abrir o apetite. Fome ela tinha de sobra. O fato é que se sentia impotente diante de um prato de comida.
— Eu ficava nervosa, as mãos suavam. Isso era pior diante de outras pessoas. Parecia que todo mundo estava me olhando e me julgando. Eu queria comer, mas não conseguia.
A dificuldade em lidar com a comida se desenvolveu na garota por volta dos sete anos, mas foi aos 13 que se tornou mais problemática. Depois de meia década com a doença adormecida, a relação com o alimento mudou bastante, mesmo assim é uma luta diária para não ter recaídas.
— Amo estar viva e comer é algo necessário. Me sentia muito mal ter tanta gente morrendo de fome e eu com essa "doença de rico"— afirma.
A doença da jovem de Canoas preocupa os especialistas e já está se tornando uma epidemia, que tende a aumentar no verão, conforme a psicóloga e terapeuta familiar Ieda Zamel Dorfman. Se antes o descaso com o alimento e a rebeldia dos adolescentes eram vistos como "coisas da idade", de alguns anos para cá, vem deixado o meio médico em alerta.
— Os pais precisam ficar mais atentos ao comportamento dos filhos. Assim que notarem qualquer sinal do problema devem buscar um especialista e impedir que a doença fique incontrolável. Doenças como essas não são aceitas pela sociedade, mas é o paciente quem menos aceita — diz a endocrinologista Patrícia Santafé.
*Os nomes foram omitidos a pedido dos personagens
A modelo e atriz francesa Isabelle Caro causou polêmica ao posar nua, em 2007, para uma campanha contra a anorexia, mostrando seu corpo devastado pela doença. Isabelle havia sido hospitalizada devido a problemas pulmonares e, segundo amigos, estava bastante fraca. A imagem de seu corpo extremamente magro, feita pelo fotógrafo Oliviero Toscani — conhecido por suas ideias provocadoras e pelos anúncios da grife Benetton — para uma campanha organizada pela marca de roupas italiana No- I- ita, rodou o mundo e incitou amor e ódio de diversos segmentos. Na época, Isabelle explicou que tinha aceitado posar para alertar as jovens sobre o perigo das dietas, da ditadura da moda e da anorexia. Ela morreu no dia 17 de novembro, aos 28 anos.
ANOREXIA
Fatores desencadeantes— Baixa autoestima: paciente se acha muito gorda, começa a emagrecer e não sabe a hora de parar.
— Desilusão amorosa: o namoro terminou e ela começa a achar que é porque está gorda e se emagrecer vai se tornar mais atraente.
— Adolescentes em busca da beleza definida pela sociedade
Características da doença— Atinge a faixa etária entre os 11 e 18 anos, mantendo uma média de 10 meninas para um menino
— Magreza extrema. A doença se manifesta aos poucos no cérebro, e a paciente chega a perder mais de 10 quilos em três meses.
— O problema não é a ausência de fome, mas sim o pavor de se alimentar e engordar.
— A visão fica distorcida com relação à imagem diante do espelho. Quanto mais emagrecem, mais acham que estão gordas.
Atenção aos sinais
— Deixam de comer. Sempre que chamados para uma refeição, dão alguma desculpa ou mentem que comeram na casa de um amigou ou no colégios
— Ficam irritados com frequência e sempre acham que as pessoas estão contra ele.
— Não querem mais participar de atividade familiar e se afastam dos amigos.
— Optam por roupas largas para disfarçar a perda de peso.
— Começam a adotar estratégias para provar que estão se alimentando, como cozinhar. Passam a preparar refeições em demasia e a oferecer para a família, mas não comem.
— Diminuição importante da ingestão de líquido
Tratamento
— O primeiro passo é fazer com que o paciente ou familiares identifiquem os sintomas.
— Somente um grupo formado por psicólogos, psiquiatras, nutricionistas, endocrinologistas e terapeutas familiares pode ajudar a reverter o transtorno.
— Como os viciados em drogas, os anoréxicos estão sempre sujeitos a recaídas. Por isso, o acompanhamento médico deve ser constante.
— Internação hospitalar é necessária em casos de extrema desnutrição.
Consequências
— A perda exagerada de massa óssea por conta do déficit alimentar pode levar à osteoporose precoce.
— A ausência de nutrientes no organismo pode provocar atraso na menstruação. Interfere na fertilidade.
Dicas para a família
— Mantenha horários para as refeições e organize para que todos compareçam e se sentem à mesa.
— Fique atento aos sinais. Como são confundidos com características da adolescência, muitos pais não dão a devida atenção.
— Tente manter o diálogo e arrume meios de reforçar a autoestima do seu filho. Dizer coisas do tipo "como essa roupa ficou bem em você" ou "como você está bonita hoje" são algumas das dicas.
— Procure ajuda assim que desconfiar do comportamento do seu filho em relação à comida. Quanto mais cedo chegar a ajuda médica, mais fácil é para contornar a doença.
— Provavelmente, seu filho não aceitará que tem algum problema. Insista sem conflitos. Lembre-se: ele não acredita que esteja doente e não se enxerga magro como você o vê.
... BULIMIA
- Fatores desencadeantes
Perdas — separações, mudanças e outros fatores estressantes para a paciente e/ou para sua família
— Ansiedade
Características da doença— Compulsão alimentar: a pessoa come mais do que o normal e de maneira voraz.
— Para compensar o descontrole e prevenir o aumento de peso, induz o vômito, abusa de laxantes e diuréticos
— Preocupação excessiva com a forma corporal e o peso
— Trata-se de um círculo vicioso, geralmente desencadeado pelo sentimento de baixa auto-estima.
Atenção aos sinais
— Atos exagerados como devorar uma torta inteira ou comer um prato de feijão com arroz no meio da tarde às escondidas.
— Idas imediatas ao banheiro após as refeições para vomitar.
— Queixas constantes de dores no estômago ou na garganta.
— Mudança de humor e irritabilidade, como choro e raiva constantes.
— Inchaço entre o rosto e o pescoço.
— Calosidades nos dedos podem ser um indício de que a pessoa está provocando o vômito.
— Obsessão por exercícios físicos.
Consequências
— Deterioração dos dentes: o vômito tem ácido que compromete o esmalte dos dentes, podendo resultar, inclusive, em cáries
— Gastrite
— Dores de garganta
— Problemas no esôfago, resultado do refluxo do conteúdo do estomago durante os vômitos
— Síndrome de intestino irritável (tem como sintomas dor e distensão abdominal e há um aumento no número de evacuações e amolecimento das fezes).
— Desidratação como consequência do uso de medicamentos como diuréticos
..VIGOREXIA
Fatores desencadeantes— Baixa autoestima e fragilidade emocional
Característica
— Faz parte de um subtipo do Transtorno Obsessivo Compulsivo (TOC), chamado de Transtorno Dismórfico Corporal.
— Em geral, é o personal trainer quem encaminha o paciente para o tratamento, mas a família deve estar atenta aos sinais de obsessão.
Sinais
— Por mais musculoso que seja, o indivíduo se olha no espelho e enxerga alguém fraco, magro demais
— Uso de qualquer produto para conquistar a forma física almejada, como anabolizantes e medicamentos veterinários injetáveis, prejudiciais à saúde.
— A vida social e profissional começa a ser afetada, e o paciente tem dificuldade para dispensar energia em outro foco que não seja a malhação.
— O máximo de tempo do dia é gasto com malhação.
— Se isola na academia para conseguir o que ele quer com o corpo.
— Se olha pelo menos seis vezes por dia no espelho.
Tratamento
— Terapia e uso de antidepressivos que repõem a transmissão de serotonina no cérebro.
Consequências
— Exigem demais do coração e também de outros órgãos vitais, podendo desencadear problemas crônicos, como cardiopatias.
— Ansiedade generalizada.
— Insônia.
— Depressão.
— Déficit de atenção.
Dicas
— O excesso de malhação pode causar problemas na musculatura, por isso é bom sempre ter um ortopedista de confiança a quem consultar.
— Procure um especialista e fale sobre as suas angústias para entender o motivo que faz com que os músculos sejam tão importantes para você.
Fontes: Ieda Zamel Dorfman, psicóloga e terapeuta de família, e Patrícia Santafé, endocrinologista (para bulimia e anorexia) e Elisabeth Meyer, terapeuta comportamental, e Willian Gunningham, professor da Faculdade de Psiquiatria da Universidade Federal da Bahia (para vigorexia).
CADERNO VIDA - ZH Disponível em :< http://zerohora.clicrbs.com.br/zerohora/jsp/default.jsp?uf=1&local=1§ion=Segundo%20Caderno&newsID=a3174513.xml: > acesso em 19 de janeiro de 2011
nossa cada doença mais perigosa q outra. Credo! mas muito interessante saber!
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