Transtornos Alimentares na Adolescência
Criado por Letícia & Luciana • 10 janeiro, 2011
Os rígidos padrões de beleza difundidos em nossa cultura provocam nas pessoas uma insatisfação estética com seus corpos, desencadeando problemas de auto-estima e, em muitos casos, os chamados transtornos alimentares. Uma pesquisa realizada pela Unilever-Dove com 3.200 mulheres entre de 18 e 24 anos em 10 países revelou que apenas 2% delas se definem como belas. E, no Brasil, esse índice cai para 1%. Dados da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica indicam nosso país como o segundo do mundo onde mais se realizam cirurgias desse tipo, 13% só em adolescentes – no ano de 2003, foram 94.845 nessa faixa etária da população, sendo que mais da metade desse número corresponde a operações estéticas, que não estão relacionadas à saúde física.
Marco Antonio De Tommaso, psicólogo e membro da Associação Brasileira para Estudos da Obesidade enxerga esse cenário de incessante busca pelo corpo ideal como uma espécie de “patologia cultural”, tendo a mídia como sua principal difusora. É grande o número de programas nacionais e internacionais que realizam radicais transformações estéticas ou concursos que premiam a perda de peso. A indústria da beleza (cosméticos, roupas, etc.) também é responsável pela propagação desses modelos idealizados e, através da publicidade, reforça cada vez mais a noção de que o sucesso está atrelado à magreza e à “boa aparência”. “A imensa maioria das heroínas de tevê é excepcionalmente magra. As que estão acima do peso ocupam papéis jocosos ou caricatos”, explica Tommaso.
A obsessão pelo corpo perfeito é mais freqüente entre adolescentes. Entre os transtornos alimentares mais comuns estão a anorexia e a bulimia nervosas (que matam em 20% dos casos e deixam seqüelas em 50%), e a obesidade. Embora o Ministério da Saúde não tenha dados estatísticos sobre essas patologias, estima-se que cerca de 2,5% das mulheres e 0,3% dos homens possam desenvolver anorexia ou bulimia. Já sobre a obesidade, os dados oficiais contemplam apenas indivíduos com mais de 20 anos e indicam 38 milhões de brasileiros com excesso de peso.
Adolescentes trocam dicas para emagrecer na Internet
Ana e Mia. Assim são chamadas, respectivamente, a anorexia e a bulimia nos diários virtuais mantidos por meninas portadoras dessas doenças. A fim de conseguirem apoio para continuarem doentes, essas jovens trocam, pela internet, práticas de como provocar o vômito, como enganar os parentes ou como suportar ficar dias sem comer. “A anorexia e a bulimia são dois grandes estados de solidão. Nesses sites, quando se encontram, elas não se acham tão doentes. Elas dizem que não é doença, é opção de vida”, explica Tatiana Moya, que defendeu tese na Universidade de São Paulo sobre transtornos alimentares.
Além disso, os blogs acabam atraindo garotas que têm todos os fatores de risco para desenvolver os distúrbio. “A menina que têm propensão à doença liga o computador e pronto. O estrago está feito”, conta Vanessa Pinzon, da Protad (Projeto de Atendimento, Ensino e Pesquisa em Transtornos Alimentares do Hospital das Clínicas de São Paulo). Para tentar diminuir esse tipo de influência, a comunidade médica está lutando para conseguir a proibição desses sites.
Insatisfação com o corpo
Uma pesquisa realizada pelo Hospital das Clínicas de São Paulo entrevistou 700 alunos universitários entre 17 e 25 anos e constatou alguns sintomas que podem provocar anorexia e bulimia nervosas. Segundo essa consulta, três em cada quatro estudantes não estão satisfeitos com o próprio corpo e 80% deles mudariam características físicas para melhorar a aparência. O fato alarmante é que 65% dos entrevistados tinham peso saudável para suas idades e alturas; 22% eram magros. Além disso, 13% afirmaram provocar vômitos ou tomar laxantes e diuréticos após as refeições, para não engordar.
Meninos e homossexuais
Apesar de serem patologias que atingem mais as mulheres, o número de meninos portadores das doenças vem crescendo. Segundo o Núcleo de Transtornos Alimentares e Obesidade da Santa Casa de Misericórdia do Rio de Janeiro, o número de garotos anoréticos ou bulêmicos cresceu cinco vezes de 2002 para 2003. De acordo com Niraldo de Oliveira Santos, especialista em transtornos alimentares do Centro de Estudos em Psicologia da Saúde, as imposições culturais contemporâneas alcançam também os meninos. “O sexo masculino não fica de fora da noção de que o corpo está associado ao sucesso nas relações interpessoais e profissionais. Para além das questões de gênero, o que observamos com freqüência nos transtornos alimentares é uma estratégia de demandar amor”.
No âmbito da homossexualidade, o índice dessas patologias entre aqueles do sexo masculino é semelhante ao das mulheres. Já entre as lésbicas, é quase nulo. De acordo com Santos, isso acontece porque os homens homossexuais estão mais envolvidos com a questão da imagem. “Fatores que se relacionam com o narcisismo, a valorização do estilo, do belo e do que é fashion implicam um aumento no consumo do que é apreciado pelo olhar, contribuindo com o aumento de casos de transtornos alimentares e da imagem corporal. O mesmo não se observa na homossexualidade feminina”, explica.
Anorexia
A anorexia nervosa se caracteriza por uma busca incansável pela magreza e pelo medo intenso de ganhar peso. De acordo com o Ambulatório de Bulimia e Transtornos Alimentares do Hospital das Clínicas de São Paulo, a anorexia nervosa é nove vezes mais comum entre as mulheres do que entre os homens e seu pico de incidência é na adolescência (maior prevalência entre as meninas de 14 a 18 anos).
Para manter seu peso abaixo de um nível normal mínimo para sua idade e altura, as jovens impõem-se uma restrição total de comida ou fazem dietas rígidas. O medo de engordar é tanto que, apesar da excessiva perda de peso, essas pessoas mantêm hábitos alimentares doentios e estão sempre vigilantes quanto às calorias ingeridas.
Bulimia
Também muito mais freqüente entre as mulheres do que nos homens, a bulimia configura-se por ataques repetidos de comer compulsivo, seguidos de métodos para evitar o ganho de peso, como o vômito, o uso de laxantes e diuréticos, e o exercício físico exaustivo. Por sentirem vergonha de seus problemas alimentares, os bulêmicos tentam dissimular ou ocultar suas crises, nas quais chegam a ingerir até 20 mil calorias.
Obesidade
A obesidade é uma doença crônica caracterizada ela excesso de gordura corporal que pode provocar ou acelerar o desenvolvimento de problemas cardíacos, ósteo-articulares ou diabetes, podendo levar até a morte. O índice de massa corporal (peso dividido pela altura elevada ao quadrado) é a principal ferramenta para se diagnosticar a obesidade. Os obesos apresentam tal índice acima de 30kg/m2.
Causas
Múltiplas causas podem explicar o surgimento dos transtornos alimentares, como fatores psicológicos, neuroquímicos ou genéticos, mas a influência cultural é a principal responsável por desencadeá-los, especialmente nos casos de anorexia e bulimia. O culto ao corpo magro, encarado como símbolo de beleza, poder e modernidade, representa um golpe na auto-estima daqueles que não se encaixam no padrão estético instituído.
No caso da obesidade, maus hábitos alimentares, problemas emocionais e a tendência a fazer menos exercícios físicos podem explicar o surgimento da doença. Mas também é importante lembrar que, normalmente, os obesos têm uma menor eficiência em gastar energia em relação a indivíduos que se alimentam de quantidades calóricas semelhantes.
Tratamento
Uma das primeiras dificuldades no tratamento de pacientes que sofrem de transtornos alimentares é convencê-los de que estão doentes. Isso porque, em geral, os obesos não querem abrir mão de seus hábitos alimentares e os anoréticos e bulêmicos costumam desconfiar dos médicos, percebendo-os com inimigos que querem apenas engordá-los. Nos três casos, portanto, é necessário um acompanhamento psicológico, a fim de conseguir uma mudança de comportamento dessas pessoas.
Os casos de anorexia ou bulimia nervosa pedem uma dieta hipercalórica, muitas vezes acompanhada de antidepressivos, que tanto auxiliam no aumento do apetite como na elevação da auto-estima desses pacientes. Em quadros mais graves, os doentes devem ser internados e receber um tratamento intensivo.
O tratamento da obesidade deve aliar uma reeducação alimentar com exercícios físicos e medicamentos prescritos pelo médico. Só em casos de obesidade mórbida ou com complicações severas, os especialistas recomendam cirurgias, como a de redução do estômago.
Serviços de Saúde
O Sistema Único de Saúde (SUS) inclui os transtornos alimentares entre as doenças que demandam tratamento de alta complexidade. Os portadores de tais patologias podem contar com os centros credenciados que possuem atendimento psiquiátrico, ou nos Centros de Atenção Psicossocial (CAPES). Entretanto, não há nenhum tipo de serviço específico, com profissionais especializados, dentro da rede pública de saúde.
Diante dessa carência, a Política Nacional de Atenção Integral à Saúde de Adolescentes e Jovens, proposta do Ministério da Saúde para a população de 10 a 24 anos, contempla os distúrbios da nutrição, visando fortalecer as ações de prevenção e assistência à saúde dos meninos e meninas que apresentem esse tipo de patologia.
Em São Paulo, o Hospital das Clínicas possui um Ambulatório de Bulimia e Transtornos Alimentares que, além de atender os doentes, oferece reuniões psicoeducacionais para os familiares desses jovens com médicos, nutricionistas e psicólogos especializados no assunto.
Abordagem midiática
Para muitos especialistas, a mídia pode ser considerada uma vilã, desencadeadora direta de transtornos alimentares. Os padrões de beleza amplamente difundidos, inclusive em programas juvenis, contribuem em grande medida para a insatisfação dos adolescentes em relação a seus corpos.
Entretanto, segundo o psicólogo Niraldo de Oliveira Santos, é preciso reconhecer que, ultimamente, os meios de comunicação vêm contribuindo para uma maior conscientização da questão. “A mídia tem sido responsável por expor esse problema, inclusive em camadas de níveis sócio-econômicos mais baixos, que antes tinham essas patologias subdiagnosticadas.
É importante alertar familiares, professores e amigos sobre os sintomas das doenças, sobre como lidar com os jovens com esses problemas”, diz Santos. Ainda assim, o especialista avalia que há poucas abordagens desse tipo. “A idéia tirânica de que você precisa ser magro para ser bem sucedido ainda ganha disparado”.
Identidade
Já para a nutricionista do Centro de Atendimento e Apoio ao Adolescente da Unifesp, Elaine Cristina Vital, a presença dos transtornos alimentares nos programas televisivos para jovens é ao mesmo tempo informativa e estimulante. “Quando o tema é abordado em novelas como a Malhação, por exemplo, é interessante observar que muitas adolescentes que antes não tinham a patologia passam a se identificar com o personagem da tevê e desenvolvem a anorexia, a bulimia”, explica.
O diretor de pro-gramação não-musical da MTV, Zico Góes, concorda que a mídia contribui para desencadear essas doenças. Ciente disso, procura tratar o tema de maneira a não perpetuar os rígidos padrões de beleza instituídos. “Já fizemos alguns programas em que aborda-mos transtornos alimentares. Além de discutirmos o assunto, a gente não reza pela cartilha da beleza. Procuramos diversificar ao máximo a aparência de nossos apresentadores de forma a não contribuir para a construção dos estereótipos que acabam se repetindo nas tevês comerciais”.
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Os rígidos padrões de beleza difundidos em nossa cultura provocam nas pessoas uma insatisfação estética com seus corpos, desencadeando problemas de auto-estima e, em muitos casos, os chamados transtornos alimentares. Uma pesquisa realizada pela Unilever-Dove com 3.200 mulheres entre de 18 e 24 anos em 10 países revelou que apenas 2% delas se definem como belas. E, no Brasil, esse índice cai para 1%. Dados da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica indicam nosso país como o segundo do mundo onde mais se realizam cirurgias desse tipo, 13% só em adolescentes – no ano de 2003, foram 94.845 nessa faixa etária da população, sendo que mais da metade desse número corresponde a operações estéticas, que não estão relacionadas à saúde física.
Marco Antonio De Tommaso, psicólogo e membro da Associação Brasileira para Estudos da Obesidade enxerga esse cenário de incessante busca pelo corpo ideal como uma espécie de “patologia cultural”, tendo a mídia como sua principal difusora. É grande o número de programas nacionais e internacionais que realizam radicais transformações estéticas ou concursos que premiam a perda de peso. A indústria da beleza (cosméticos, roupas, etc.) também é responsável pela propagação desses modelos idealizados e, através da publicidade, reforça cada vez mais a noção de que o sucesso está atrelado à magreza e à “boa aparência”. “A imensa maioria das heroínas de tevê é excepcionalmente magra. As que estão acima do peso ocupam papéis jocosos ou caricatos”, explica Tommaso.
A obsessão pelo corpo perfeito é mais freqüente entre adolescentes. Entre os transtornos alimentares mais comuns estão a anorexia e a bulimia nervosas (que matam em 20% dos casos e deixam seqüelas em 50%), e a obesidade. Embora o Ministério da Saúde não tenha dados estatísticos sobre essas patologias, estima-se que cerca de 2,5% das mulheres e 0,3% dos homens possam desenvolver anorexia ou bulimia. Já sobre a obesidade, os dados oficiais contemplam apenas indivíduos com mais de 20 anos e indicam 38 milhões de brasileiros com excesso de peso.
Adolescentes trocam dicas para emagrecer na Internet
Ana e Mia. Assim são chamadas, respectivamente, a anorexia e a bulimia nos diários virtuais mantidos por meninas portadoras dessas doenças. A fim de conseguirem apoio para continuarem doentes, essas jovens trocam, pela internet, práticas de como provocar o vômito, como enganar os parentes ou como suportar ficar dias sem comer. “A anorexia e a bulimia são dois grandes estados de solidão. Nesses sites, quando se encontram, elas não se acham tão doentes. Elas dizem que não é doença, é opção de vida”, explica Tatiana Moya, que defendeu tese na Universidade de São Paulo sobre transtornos alimentares.
Além disso, os blogs acabam atraindo garotas que têm todos os fatores de risco para desenvolver os distúrbio. “A menina que têm propensão à doença liga o computador e pronto. O estrago está feito”, conta Vanessa Pinzon, da Protad (Projeto de Atendimento, Ensino e Pesquisa em Transtornos Alimentares do Hospital das Clínicas de São Paulo). Para tentar diminuir esse tipo de influência, a comunidade médica está lutando para conseguir a proibição desses sites.
Insatisfação com o corpo
Uma pesquisa realizada pelo Hospital das Clínicas de São Paulo entrevistou 700 alunos universitários entre 17 e 25 anos e constatou alguns sintomas que podem provocar anorexia e bulimia nervosas. Segundo essa consulta, três em cada quatro estudantes não estão satisfeitos com o próprio corpo e 80% deles mudariam características físicas para melhorar a aparência. O fato alarmante é que 65% dos entrevistados tinham peso saudável para suas idades e alturas; 22% eram magros. Além disso, 13% afirmaram provocar vômitos ou tomar laxantes e diuréticos após as refeições, para não engordar.
Meninos e homossexuais
Apesar de serem patologias que atingem mais as mulheres, o número de meninos portadores das doenças vem crescendo. Segundo o Núcleo de Transtornos Alimentares e Obesidade da Santa Casa de Misericórdia do Rio de Janeiro, o número de garotos anoréticos ou bulêmicos cresceu cinco vezes de 2002 para 2003. De acordo com Niraldo de Oliveira Santos, especialista em transtornos alimentares do Centro de Estudos em Psicologia da Saúde, as imposições culturais contemporâneas alcançam também os meninos. “O sexo masculino não fica de fora da noção de que o corpo está associado ao sucesso nas relações interpessoais e profissionais. Para além das questões de gênero, o que observamos com freqüência nos transtornos alimentares é uma estratégia de demandar amor”.
No âmbito da homossexualidade, o índice dessas patologias entre aqueles do sexo masculino é semelhante ao das mulheres. Já entre as lésbicas, é quase nulo. De acordo com Santos, isso acontece porque os homens homossexuais estão mais envolvidos com a questão da imagem. “Fatores que se relacionam com o narcisismo, a valorização do estilo, do belo e do que é fashion implicam um aumento no consumo do que é apreciado pelo olhar, contribuindo com o aumento de casos de transtornos alimentares e da imagem corporal. O mesmo não se observa na homossexualidade feminina”, explica.
Anorexia
A anorexia nervosa se caracteriza por uma busca incansável pela magreza e pelo medo intenso de ganhar peso. De acordo com o Ambulatório de Bulimia e Transtornos Alimentares do Hospital das Clínicas de São Paulo, a anorexia nervosa é nove vezes mais comum entre as mulheres do que entre os homens e seu pico de incidência é na adolescência (maior prevalência entre as meninas de 14 a 18 anos).
Para manter seu peso abaixo de um nível normal mínimo para sua idade e altura, as jovens impõem-se uma restrição total de comida ou fazem dietas rígidas. O medo de engordar é tanto que, apesar da excessiva perda de peso, essas pessoas mantêm hábitos alimentares doentios e estão sempre vigilantes quanto às calorias ingeridas.
Bulimia
Também muito mais freqüente entre as mulheres do que nos homens, a bulimia configura-se por ataques repetidos de comer compulsivo, seguidos de métodos para evitar o ganho de peso, como o vômito, o uso de laxantes e diuréticos, e o exercício físico exaustivo. Por sentirem vergonha de seus problemas alimentares, os bulêmicos tentam dissimular ou ocultar suas crises, nas quais chegam a ingerir até 20 mil calorias.
Obesidade
A obesidade é uma doença crônica caracterizada ela excesso de gordura corporal que pode provocar ou acelerar o desenvolvimento de problemas cardíacos, ósteo-articulares ou diabetes, podendo levar até a morte. O índice de massa corporal (peso dividido pela altura elevada ao quadrado) é a principal ferramenta para se diagnosticar a obesidade. Os obesos apresentam tal índice acima de 30kg/m2.
Causas
Múltiplas causas podem explicar o surgimento dos transtornos alimentares, como fatores psicológicos, neuroquímicos ou genéticos, mas a influência cultural é a principal responsável por desencadeá-los, especialmente nos casos de anorexia e bulimia. O culto ao corpo magro, encarado como símbolo de beleza, poder e modernidade, representa um golpe na auto-estima daqueles que não se encaixam no padrão estético instituído.
No caso da obesidade, maus hábitos alimentares, problemas emocionais e a tendência a fazer menos exercícios físicos podem explicar o surgimento da doença. Mas também é importante lembrar que, normalmente, os obesos têm uma menor eficiência em gastar energia em relação a indivíduos que se alimentam de quantidades calóricas semelhantes.
Tratamento
Uma das primeiras dificuldades no tratamento de pacientes que sofrem de transtornos alimentares é convencê-los de que estão doentes. Isso porque, em geral, os obesos não querem abrir mão de seus hábitos alimentares e os anoréticos e bulêmicos costumam desconfiar dos médicos, percebendo-os com inimigos que querem apenas engordá-los. Nos três casos, portanto, é necessário um acompanhamento psicológico, a fim de conseguir uma mudança de comportamento dessas pessoas.
Os casos de anorexia ou bulimia nervosa pedem uma dieta hipercalórica, muitas vezes acompanhada de antidepressivos, que tanto auxiliam no aumento do apetite como na elevação da auto-estima desses pacientes. Em quadros mais graves, os doentes devem ser internados e receber um tratamento intensivo.
O tratamento da obesidade deve aliar uma reeducação alimentar com exercícios físicos e medicamentos prescritos pelo médico. Só em casos de obesidade mórbida ou com complicações severas, os especialistas recomendam cirurgias, como a de redução do estômago.
Serviços de Saúde
O Sistema Único de Saúde (SUS) inclui os transtornos alimentares entre as doenças que demandam tratamento de alta complexidade. Os portadores de tais patologias podem contar com os centros credenciados que possuem atendimento psiquiátrico, ou nos Centros de Atenção Psicossocial (CAPES). Entretanto, não há nenhum tipo de serviço específico, com profissionais especializados, dentro da rede pública de saúde.
Diante dessa carência, a Política Nacional de Atenção Integral à Saúde de Adolescentes e Jovens, proposta do Ministério da Saúde para a população de 10 a 24 anos, contempla os distúrbios da nutrição, visando fortalecer as ações de prevenção e assistência à saúde dos meninos e meninas que apresentem esse tipo de patologia.
Em São Paulo, o Hospital das Clínicas possui um Ambulatório de Bulimia e Transtornos Alimentares que, além de atender os doentes, oferece reuniões psicoeducacionais para os familiares desses jovens com médicos, nutricionistas e psicólogos especializados no assunto.
Abordagem midiática
Para muitos especialistas, a mídia pode ser considerada uma vilã, desencadeadora direta de transtornos alimentares. Os padrões de beleza amplamente difundidos, inclusive em programas juvenis, contribuem em grande medida para a insatisfação dos adolescentes em relação a seus corpos.
Entretanto, segundo o psicólogo Niraldo de Oliveira Santos, é preciso reconhecer que, ultimamente, os meios de comunicação vêm contribuindo para uma maior conscientização da questão. “A mídia tem sido responsável por expor esse problema, inclusive em camadas de níveis sócio-econômicos mais baixos, que antes tinham essas patologias subdiagnosticadas.
É importante alertar familiares, professores e amigos sobre os sintomas das doenças, sobre como lidar com os jovens com esses problemas”, diz Santos. Ainda assim, o especialista avalia que há poucas abordagens desse tipo. “A idéia tirânica de que você precisa ser magro para ser bem sucedido ainda ganha disparado”.
Identidade
Já para a nutricionista do Centro de Atendimento e Apoio ao Adolescente da Unifesp, Elaine Cristina Vital, a presença dos transtornos alimentares nos programas televisivos para jovens é ao mesmo tempo informativa e estimulante. “Quando o tema é abordado em novelas como a Malhação, por exemplo, é interessante observar que muitas adolescentes que antes não tinham a patologia passam a se identificar com o personagem da tevê e desenvolvem a anorexia, a bulimia”, explica.
O diretor de pro-gramação não-musical da MTV, Zico Góes, concorda que a mídia contribui para desencadear essas doenças. Ciente disso, procura tratar o tema de maneira a não perpetuar os rígidos padrões de beleza instituídos. “Já fizemos alguns programas em que aborda-mos transtornos alimentares. Além de discutirmos o assunto, a gente não reza pela cartilha da beleza. Procuramos diversificar ao máximo a aparência de nossos apresentadores de forma a não contribuir para a construção dos estereótipos que acabam se repetindo nas tevês comerciais”.
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