CONTRADIÇÕES DA BELEZA - MODELO X VIDA REAL
BELISSIMO TEXTO PUBLICADO NO BLOG SIGNIFICANTES , SOBRE PSICANÁLISE:
http://significantess.blogspot.com/2010/02/contradicoes-sobre-beleza-feminina.html
quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010
Contradições sobre a beleza feminina
Por Ligia Martins de Almeida em 26/1/2010
A mídia não chegou – e talvez nunca chegue – a um consenso quando se trata de beleza feminina. Ao mesmo tempo em que endeusa as modelos supermagras (é só conferir as fotos de revistas de moda como Elle e Vogue) e faz as mulheres comuns se sentirem inferiores, denuncia que as modelos estão magras demais, como se viu no noticiário da semana sobre a São Paulo Fashion Week:
"`Gente, o que é isso, essa menina está doente?´ A frase, de um `fashionista´ sentado na primeira fila de um desfile da SPFW, ilustra um espanto recorrente na atual edição do evento: as modelos estão mais magras do que nunca. Prova disso é que estilistas estão tendo dificuldades em montar seus castings, fazem ajustes de última hora e escolhem peças estratégicas que escondam os ossos saltados das modelos. Na SPFW da magreza radical brilham modelos na faixa dos 18 anos, que têm índice de massa corporal, calculado pela Folha, igual ao de crianças de nove anos. No mundo dos adultos, a Organização Mundial da Saúde chama esse índice de magreza severa" (Folha de S.Paulo, 20/01/2010).
"O retorno da celeuma sobre a esqualidez das modelos nos desfiles de moda é uma útil investida crítica sobre o que a sociedade da ostentação e do consumo vem fazendo com o corpo humano, especialmente o corpo da mulher...
Juntamente com a maquilagem, a moda acaba expressando um crescente desapreço pelo próprio corpo na busca de sempre nova identidade. É verdade que o que se vê nos desfiles de moda rarissimamente se vê nas ruas e mesmo nas cerimônias de grande ostentação social. Portanto, uma insatisfação atendida muito mais pelo anúncio do novo do que por sua concretização" (O Estado de S.Paulo, 22/01/2010).
Uma linha para as curvilíneas
A explicação para a excessiva magreza das modelos é dada (também na Folha de S.Paulo) pela modelo Aline Weber: "Três coleções atrás, no auge do pânico antianorexia, as pessoas pesavam as modelos no backstage para ver se elas estavam saudáveis. Agora, a poeira baixou. Se você engorda um pouco, todo mundo está ali pra te julgar. Se você emagrece, falam que você está linda". Em resumo, a culpa seria mesmo dos criadores de moda. Aline diz conhecer muitas meninas bulímicas e anoréxicas fora do Brasil. "As russas são as piores", conta.
É uma pena que a discussão vá morrer com o fim da Semana de Moda. As modelos vão continuar magérrimas, "por tomar cafezinho em vez de comer", como disse um dos entrevistados da Folha, "por problemas de droga", como disse outro, ou por terem que se adaptar ao padrão parisiense de moda (das mulheres magras com seus ossos que precisam ser disfarçados pelo Photoshop, segundo um "fashionista"). A mídia só vai falar das trabalhadoras da moda (as jovens modelos que ainda não chegaram ao posto de celebridade) durante os desfiles do meio do ano. Talvez o assunto "magreza" nem entre em pauta. E as pobres leitoras, até lá, vão continuar bombardeadas com matérias de moda mostrando modelos magérrimas e, nas revistas femininas, textos que ensinam a entrar em forma para escolher o modelito da edição.
Enquanto isso, nos Estados Unidos – com transmissão pelo canal pago GNT, que se orgulha de ser o grande divulgador de moda no Brasil – a apresentadora Oprah Winfrey continua trabalhando para melhorar a auto-estima das mulheres normais (obesas na opinião dos "fashionistas"). Semana passada, enquanto os jornais brasileiros discutiam a magreza das modelos que apareciam nos lançamentos de moda, ela dedicou quase um programa inteiro ao lançamento de um jeans feito especialmente para as mulheres "curvilíneas", ou seja: mulheres com tudo farto: das pernas aos peitos. Mulheres que, segundo ela, jamais tinham conseguido encontrar um jeans que passasse por suas grossas coxas.
Pode até ser apenas um lance de marketing, já que a própria Oprah, bem gordinha, se declarava confortável no novo jeans, mas mereceu longos aplausos da platéia onde, aliás, não havia nenhuma mulher anoxérica. Essa linha para as curvilíneas – ou seja, o biotipo brasileiro – continua fora de nossas revistas e jornais.
E NÓS SOMOS PASSIVAS, REFLEXIVAS, OU SIMPLESMENTE FELIZES
http://significantess.blogspot.com/2010/02/contradicoes-sobre-beleza-feminina.html
quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010
Contradições sobre a beleza feminina
Por Ligia Martins de Almeida em 26/1/2010
A mídia não chegou – e talvez nunca chegue – a um consenso quando se trata de beleza feminina. Ao mesmo tempo em que endeusa as modelos supermagras (é só conferir as fotos de revistas de moda como Elle e Vogue) e faz as mulheres comuns se sentirem inferiores, denuncia que as modelos estão magras demais, como se viu no noticiário da semana sobre a São Paulo Fashion Week:
"`Gente, o que é isso, essa menina está doente?´ A frase, de um `fashionista´ sentado na primeira fila de um desfile da SPFW, ilustra um espanto recorrente na atual edição do evento: as modelos estão mais magras do que nunca. Prova disso é que estilistas estão tendo dificuldades em montar seus castings, fazem ajustes de última hora e escolhem peças estratégicas que escondam os ossos saltados das modelos. Na SPFW da magreza radical brilham modelos na faixa dos 18 anos, que têm índice de massa corporal, calculado pela Folha, igual ao de crianças de nove anos. No mundo dos adultos, a Organização Mundial da Saúde chama esse índice de magreza severa" (Folha de S.Paulo, 20/01/2010).
"O retorno da celeuma sobre a esqualidez das modelos nos desfiles de moda é uma útil investida crítica sobre o que a sociedade da ostentação e do consumo vem fazendo com o corpo humano, especialmente o corpo da mulher...
Juntamente com a maquilagem, a moda acaba expressando um crescente desapreço pelo próprio corpo na busca de sempre nova identidade. É verdade que o que se vê nos desfiles de moda rarissimamente se vê nas ruas e mesmo nas cerimônias de grande ostentação social. Portanto, uma insatisfação atendida muito mais pelo anúncio do novo do que por sua concretização" (O Estado de S.Paulo, 22/01/2010).
Uma linha para as curvilíneas
A explicação para a excessiva magreza das modelos é dada (também na Folha de S.Paulo) pela modelo Aline Weber: "Três coleções atrás, no auge do pânico antianorexia, as pessoas pesavam as modelos no backstage para ver se elas estavam saudáveis. Agora, a poeira baixou. Se você engorda um pouco, todo mundo está ali pra te julgar. Se você emagrece, falam que você está linda". Em resumo, a culpa seria mesmo dos criadores de moda. Aline diz conhecer muitas meninas bulímicas e anoréxicas fora do Brasil. "As russas são as piores", conta.
É uma pena que a discussão vá morrer com o fim da Semana de Moda. As modelos vão continuar magérrimas, "por tomar cafezinho em vez de comer", como disse um dos entrevistados da Folha, "por problemas de droga", como disse outro, ou por terem que se adaptar ao padrão parisiense de moda (das mulheres magras com seus ossos que precisam ser disfarçados pelo Photoshop, segundo um "fashionista"). A mídia só vai falar das trabalhadoras da moda (as jovens modelos que ainda não chegaram ao posto de celebridade) durante os desfiles do meio do ano. Talvez o assunto "magreza" nem entre em pauta. E as pobres leitoras, até lá, vão continuar bombardeadas com matérias de moda mostrando modelos magérrimas e, nas revistas femininas, textos que ensinam a entrar em forma para escolher o modelito da edição.
Enquanto isso, nos Estados Unidos – com transmissão pelo canal pago GNT, que se orgulha de ser o grande divulgador de moda no Brasil – a apresentadora Oprah Winfrey continua trabalhando para melhorar a auto-estima das mulheres normais (obesas na opinião dos "fashionistas"). Semana passada, enquanto os jornais brasileiros discutiam a magreza das modelos que apareciam nos lançamentos de moda, ela dedicou quase um programa inteiro ao lançamento de um jeans feito especialmente para as mulheres "curvilíneas", ou seja: mulheres com tudo farto: das pernas aos peitos. Mulheres que, segundo ela, jamais tinham conseguido encontrar um jeans que passasse por suas grossas coxas.
Pode até ser apenas um lance de marketing, já que a própria Oprah, bem gordinha, se declarava confortável no novo jeans, mas mereceu longos aplausos da platéia onde, aliás, não havia nenhuma mulher anoxérica. Essa linha para as curvilíneas – ou seja, o biotipo brasileiro – continua fora de nossas revistas e jornais.
E NÓS SOMOS PASSIVAS, REFLEXIVAS, OU SIMPLESMENTE FELIZES
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