MESMO COM ESTE FINAL MELANCOLICO DE 2009 ainda acredito nas palavras do giorgetti
Prezado professor Belluzzo:
Em primeiro lugar quero lhe dizer que é uma satisfação poder finalmente tratar alguém ligado ao futebol pelo título de professor sem que isso soe como uma piada melancólica. Em seguida, com enorme atraso, gostaria de cumprimentá-lo pela sua eleição à presidência do Palmeiras. Ela não é só boa para o clube, é importantíssima para todo o esporte brasileiro. Traz para o centro da arena das decisões e do debate as qualidades de um intelectual acostumado a tratar problemas de forma racional, clara e objetiva.
No Brasil temos profunda dificuldade em lidar com a racionalidade. Com enorme rapidez o confronto de idéias, quando existe, evolui para entreveros pessoais, ódios, rancores e atitudes francamente irracionais e impensadas. Os resultados da sua presença e da sua maneira de proceder já aparecem - por exemplo, no último Palmeiras x São Paulo, que transcorreu sem problemas, coisa quase impensável dado o que houve nas últimas partidas entre as duas equipes. O entendimento entre as diretorias foi pacífico e civilizado, fazendo com que esse procedimento automaticamente se espalhasse por outros setores dos dois clubes.
Não houve questionamentos menores, nem se acirraram os ânimos inutilmente com atitudes sem sentido. É assim que procede alguém que dirige, alguém à frente de um clube grande, de massa.Por isso, estou seguro de que sua eleição é uma novidade mais do que necessária, mais do que esperada nesse futebol tão medíocre, mediocridade que infelizmente começa com os dirigentes. Mas não há por que continuar me alongando em elogios inúteis: sua biografia fala por si e os resultados poderão ser verificados por todos.
Queria aproveitar a ocasião para me deter em outro lado da sua personalidade: o lado boleiro. Esse lado interessa particularmente ao palmeirense. O senhor, lembro bem, foi um excelente centroavante, que poderia ter se tornado profissional de futebol. Aliás, como outros intelectuais. Seria oportuno alguém se ocupar um dia de um estudo sobre os intelectuais boleiros neste país. Teria enormes e gratas surpresas, como o senhor mesmo, ou, apenas como outro exemplo, Ismail Xavier, um dos maiores, talvez o maior, entre os estudiosos do cinema brasileiro, que atuou exatamente no seu Palmeiras, quase se tornando profissional. Pois bem, caro professor, é ao antigo centroavante que dirijo a pergunta: não seria uma delícia se o senhor tivesse podido enfrentar a defesa do Palmeiras? Não é o sonho de qualquer centroavante enfrentar uma zaga como a do clube que o senhor dirige? Não seria uma dádiva de Deus, se o senhor pudesse fazer gols de cabeça sem sequer ter de sair do chão? Imagine então o que o senhor não faria ao ver três zagueiros pela frente, (às vezes dois, nunca se sabe bem), sempre mal postados e dando trombadas?
Sua posição, por outro lado, deve fazer com que entenda perfeitamente o drama do Keirrisson: o senhor gostaria de receber aqueles passes que vêm do meio de campo do Palmeiras, exceção honrosa de Claiton Xavier? Ou quantos gols acha que faria recendo cruzamentos como os que vêm da direita do ataque do seu time?
Por isso, professor, gostaria que me perdoasse o atrevimento de lhe dar um conselho: no momento em que algum "professor" sugerir uma contratação, antes de aprová-la consulte o centroavante que foi um dia.
FONTE http://bianco.futblog.com.br/47684/CARTA-ABERTA-AO-PROF-BELLUZZO/
Estadão - 05/04/2009
Em primeiro lugar quero lhe dizer que é uma satisfação poder finalmente tratar alguém ligado ao futebol pelo título de professor sem que isso soe como uma piada melancólica. Em seguida, com enorme atraso, gostaria de cumprimentá-lo pela sua eleição à presidência do Palmeiras. Ela não é só boa para o clube, é importantíssima para todo o esporte brasileiro. Traz para o centro da arena das decisões e do debate as qualidades de um intelectual acostumado a tratar problemas de forma racional, clara e objetiva.
No Brasil temos profunda dificuldade em lidar com a racionalidade. Com enorme rapidez o confronto de idéias, quando existe, evolui para entreveros pessoais, ódios, rancores e atitudes francamente irracionais e impensadas. Os resultados da sua presença e da sua maneira de proceder já aparecem - por exemplo, no último Palmeiras x São Paulo, que transcorreu sem problemas, coisa quase impensável dado o que houve nas últimas partidas entre as duas equipes. O entendimento entre as diretorias foi pacífico e civilizado, fazendo com que esse procedimento automaticamente se espalhasse por outros setores dos dois clubes.
Não houve questionamentos menores, nem se acirraram os ânimos inutilmente com atitudes sem sentido. É assim que procede alguém que dirige, alguém à frente de um clube grande, de massa.Por isso, estou seguro de que sua eleição é uma novidade mais do que necessária, mais do que esperada nesse futebol tão medíocre, mediocridade que infelizmente começa com os dirigentes. Mas não há por que continuar me alongando em elogios inúteis: sua biografia fala por si e os resultados poderão ser verificados por todos.
Queria aproveitar a ocasião para me deter em outro lado da sua personalidade: o lado boleiro. Esse lado interessa particularmente ao palmeirense. O senhor, lembro bem, foi um excelente centroavante, que poderia ter se tornado profissional de futebol. Aliás, como outros intelectuais. Seria oportuno alguém se ocupar um dia de um estudo sobre os intelectuais boleiros neste país. Teria enormes e gratas surpresas, como o senhor mesmo, ou, apenas como outro exemplo, Ismail Xavier, um dos maiores, talvez o maior, entre os estudiosos do cinema brasileiro, que atuou exatamente no seu Palmeiras, quase se tornando profissional. Pois bem, caro professor, é ao antigo centroavante que dirijo a pergunta: não seria uma delícia se o senhor tivesse podido enfrentar a defesa do Palmeiras? Não é o sonho de qualquer centroavante enfrentar uma zaga como a do clube que o senhor dirige? Não seria uma dádiva de Deus, se o senhor pudesse fazer gols de cabeça sem sequer ter de sair do chão? Imagine então o que o senhor não faria ao ver três zagueiros pela frente, (às vezes dois, nunca se sabe bem), sempre mal postados e dando trombadas?
Sua posição, por outro lado, deve fazer com que entenda perfeitamente o drama do Keirrisson: o senhor gostaria de receber aqueles passes que vêm do meio de campo do Palmeiras, exceção honrosa de Claiton Xavier? Ou quantos gols acha que faria recendo cruzamentos como os que vêm da direita do ataque do seu time?
Por isso, professor, gostaria que me perdoasse o atrevimento de lhe dar um conselho: no momento em que algum "professor" sugerir uma contratação, antes de aprová-la consulte o centroavante que foi um dia.
FONTE http://bianco.futblog.com.br/47684/CARTA-ABERTA-AO-PROF-BELLUZZO/
Estadão - 05/04/2009
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