VAMOS PENSAR NO CULTO AMAGREZA
O Culto da Magreza
Escrito por Maria Elizabeth Gatto
A excessiva preocupação com a beleza e a perfeição do corpo, na sociedade contemporânea, tornou-se um fenômeno de massa que atinge tanto as mulheres quanto os homens, exprimindo-se, porém, de forma mais clara e evidente para as mulheres, especialmente as mais jovens, através das caricaturas de feminilidade. A cultura do belo sexo, a época do belo sexo, o culto da magreza, a mística da beleza-magreza, a supremacia estética do feminino, o mito da beleza, a fixação cultural na magreza feminina, o ideal de magreza, a beleza da magreza, são expressões que evidenciam o lugar preponderante que o corpo da mulher; magro, jovem e esbelto, ocupa na dinâmica social moderna.
Existindo como dispositivos culturais, a estética do feminino e o culto do belo sexo exercem uma influência significativa sobre a condição as mulheres, que se sentem pressionadas a assimilar e corresponder ao padrão de beleza idealizado e supervalorizado, centrado na magreza. Com as imagens transmitidas pela mídia, as mensagens e ofertas das indústrias que exploram o ideal da beleza, o corpo é colocado em evidência e os cuidados e as práticas de beleza mobilizam os interesses femininos, pois é o corpo que a mulher deve moldar, para estar na moda de seu tempo.
A motivação para rejeitar ou alterar suas características físicas está, assim, relacionada à pressão social que ela enfrenta para adequar seus tributos físicos à percepção do corpo ideal, e tem forte influência sobre a relação entre a mulher e sua própria imagem, constituindo-se em uma forma de expressão de sua subjetividade.
Na busca por este corpo idealizado, a imagem do espelho ou de uma foto, é inadequada e insuficiente, pois sempre lhe falta algo. E a percepção desta ausência tem forte ascendência sobre a imagem que cada mulher tem de si própria, sobre o juízo que faz de si mesma e sobre o amor próprio, afetando a sua auto-imagem.
A imagem corporal refere-se à representação mental do próprio corpo, com as atitudes, sentimentos, fantasias e conflitos associados a ele.
Não é apenas uma construção cognitiva, mas também um reflexo dos desejos, atitudes emocionais e da interação com os outros.
O desenvolvimento de padrões alimentares inadequados, o comportamento de fazer dietas que buscam o emagrecimento, bem como o uso de recursos diversos de embelezamento, articulam maneiras de se lidar com a insatisfação da imagem corporal e com o controle do corpo.
Representam tentativas de reduzir a discrepância entre a imagem corporal real e a imagem idealizada, mas ao mesmo tempo se associam ao incremento da incidência do distúrbio dismórfico corporal e estão também na gênese dos transtornos alimentares, como a anorexia nervosa e a bulimia nervosa, bem como na origem dos quadros clínicos da obesidade.
No intrincado tecido sociocultural e psicológico que constitui a cultura contemporânea, as mulheres parecem ser as maiores vítimas. Mas dependendo da singularidade e da subjetividade de cada uma, a extensão com que tais fatores irão interferir em suas vidas, varia dentro de um espectro que pode ir do normal ao patológico.
Neste contexto é relevante buscar uma compreensão dos aspectos do funcionamento psíquico e dos processos dinâmicos que possam estar se revelando na vida emocional destas mulheres, manifestando-se como intenso sofrimento e fortes angústias.
* Psicóloga, psicanalista, especialista em Transtornos Alimentares e Obesidade e Saúde Publica. Secretária Geral do Instituto Brasileiro Interdisciplinar da Obesidade (INBIO). Atua na área clinica há 30 anos.http://www.inbio.org.br/index.php?option=com_content&task=vie
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