O mundo é dos jovens: ONU registra recorde histórico na população de 10 a 24 anos Leia mais sobre esse assunto em http://oglobo.globo.com/sociedade/o-mundo-dos-jovens-onu-registra-recorde-historico-na-populacao-de-10-24-anos-14587036#ixzz3JcWecQ6G © 1996 - 2014. Todos direitos reservados a Infoglobo Comunicação e Participações S.A. Este material não pode ser publicado, transmitido por broadcast, reescrito ou redistribuído sem autorização.

Relatório mostra que 25% da população do planeta está nessa faixa. Saúde, educação e emprego são desafios

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Mundo tem 1,8 bilhão de pessoas entre 10 e 24 anos
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Mundo tem 1,8 bilhão de pessoas entre 10 e 24 anos - Free Photos

RIO - Um relatório inédito lançado pelo Fundo das Nações Unidas para a População (UNFPA) traça um retrato da atual juventude mundial, uma multidão de 1,8 bilhão de pessoas que passa por problemas centenários, ao mesmo tempo em que carrega a responsabilidade de garantir um futuro sustentável para o planeta.
O tamanho da população jovem não tem precedentes. As pessoas entre 10 e 24 anos, alvo do estudo, correspondem a 25% dos seres humanos — um recorde histórico. E a tendência é de crescimento: em 2050, serão 2 bilhões. Sua distribuição, no entanto, é desigual. Noventa por cento estão nos países em desenvolvimento, confirmando a tendência ao envelhecimento das sociedades mais ricas.

Mesmo ocupando um quinhão avantajado da população mundial, os jovens estão na lanterna entre os grupos contemplados por políticas públicas. Segundo o relatório da ONFPA, faltam investimentos em programas de qualidade de vida, educação e oportunidades de emprego. O resultado é a sua vulnerabilidade à violência, drogas, depressão e gravidez na adolescência, entre um leque de fatores que reduz o potencial econômico e social deste contingente.
SAÚDE É ÁREA DEFICIENTE
Chamado “O poder de 1,8 bilhão: adolescentes, jovens e a transformação para o futuro”, o documento é divulgado no mesmo momento em que a comunidade internacional discute as medidas que substituirão os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio, como são conhecidos os oito compromissos que deveriam ser seguidos pelos governos entre 2000 e 2015 (erradicação da pobreza e da fome, atingir o ensino básico universal, promover a igualdade entre os sexos, reduzir a mortalidade infantil, melhorar a saúde materna, combater HIV, malária e outras doenças; garantir a sustentabilidade ambiental e estabelecer parceria mundial para o desenvolvimento).
A situação dos jovens mostra as pendengas que resistiram aos avanços. A saúde é uma das áreas mais deficientes. Em 2012, cerca de 1,3 milhão de adolescentes morreram de doenças preveníveis ou tratáveis, segundo a Organização Mundial de Saúde. Pelo menos 160 milhões de jovens estão desnutridos.
— O HIV é a segunda maior causa de morte entre os jovens — destaca Anna Cunha, oficial do UNFPA. — Entre as meninas, este ranking é liderado pelo suicídio. E temos observado uma ligação cada vez maior entre estes problemas de saúde mental com outros desafios, como a gravidez indesejada.
Nos países mais pobres, os transtornos mentais são observados em meninas a partir dos 12 anos. Estes problemas são agravados com costumes tradicionais, como o casamento infantil. A cada dia, cerca de 39 mil crianças tornam-se noivas. Anna lembra que o matrimônio precoce é proibido em muitos países, mas ainda assim praticado. Com a prática, as jovens tornam-se mais vulneráveis a doenças sexualmente transmissíveis.
— A educação sexual ainda representa um grande obstáculo — lamenta Anna. — Os jovens têm acesso limitado à informação, recursos e serviços. Em muitos países a lei dificulta a chegada de preservativos. O tema é ensinado na escola de forma distorcida, sem base científica. E os profissionais de saúde têm preconceito em lidar com quem precisa de assistência.
Entre os rapazes, a maior vilã é a violência. Em 2012, cerca de 1,3 milhão de adolescentes morreram em conflitos, sendo que 97% ocorreram em países pobres. Fugir da criminalidade significa, em muitos casos, abandonar a casa. A criminalidade foi apontada como o maior motivo do êxodo de jovens de Honduras para os EUA este ano.
A educação também figura entre os temas que mais preocupam os redatores do relatório. Aproximadamente 175 milhões de pessoas não conseguem ler uma frase completa. A Unesco destaca que, embora frequentem o ensino primário por quatro anos, a falta de recursos básicos faz os alunos deixarem a escola sem qualquer aprendizado. Como as adolescentes são mães muito cedo, há muito mais rapazes dentro da sala de aula do que mulheres.
Alguns países têm feito seu dever de casa. Brasil e México são citados entre aqueles com programas de transferência de renda que aumentam o nível de escolaridade dos jovens e acesso a saúde, inclusive para as meninas.
— A educação de qualidade tem uma ligação direta com a economia — assinala o nigeriano Babatunde Osotimehin, diretor-executivo da UNFPA. — Se tem uma universidade à disposição, por exemplo, o jovem tem mais capacidade para se inserir no mercado de trabalho e criar pequenos e médios negócios, uma grande fonte de empregos.
Esta é a senha para Osotimehin indicar o lado promissor descoberto pelo levantamento. Dos 210 países, 59 estão em transição demográfica — a diminuição das taxas de fecundidade e mortalidade. Este fenômeno provoca um “bônus”. Durante um certo período, variável em cada nação, há mais pessoas em idade ativa (de 15 a 64 anos) do que dependentes da população que está fora do mercado (crianças de até dez anos e idosos com 65 anos ou mais). É o momento ideal para o crescimento econômico.
— Este é um sinal, o melhor para que os países em desenvolvimento consigam dar acesso à população a políticas públicas — descreve Osotimehin. — É quando os jovens ganham maior perspectiva, um papel ativo na economia.
No ano passado, pouco mais de 73 milhões de jovens entre 15 e 24 anos — o equivalente a 36% de todas as pessoas nesta faixa etária — está desempregada. A maioria está nos países em desenvolvimento, que precisam correr atrás dos investimentos necessários para fazer esta curva ascendente.
MAIS FINANCIAMENTO PARA AS MULHERES
O modelo a ser seguido tem endereço. Nos últimos 40 anos, o Leste Asiático conseguiu expandir o mercado de trabalho e aumentar os padrões de vida da maioria dos estratos da população. A receita é básica: aumentar o acesso e a qualidade da educação; criar oportunidades em outros setores da economia, além da tradicional agricultura; e disponibilizar mais crédito no sistema bancário à população, principalmente para as mulheres. Quando elas contam com mais dinheiro na conta, o número de crianças na escola é elevado em 8%, e há menos desigualdades sociais entre jovens de ambos os sexos.
“O exemplo dado pelos países do Leste Asiático, que transformaram suas trajetórias econômicas nas décadas de 1970 e 1980, mostra que as políticas prescritas no relatório têm sido bem sucedidas no passado. Países agora à beira de uma transição demográfica pode alcançar esse crescimento, mas apenas com o investimento adequado em suas populações jovens”, ressalta o documento da UNFPA.
O relatório afirma que dois caminhos podem ser seguidos. Um deles, em que o governo abre o cofre para políticas públicas voltadas a crianças e adolescentes, resulta em “uma enorme recompensa a longo prazo no desenvolvimento econômico e social”. E cita a região mais pobre do planeta: se os países da África Subsaariana fizerem os investimentos necessários em capital humano, seus dividendos demográficos podem render US$ 500 bilhões por ano nas próximas três décadas. É um ganho expressivo, considerando que o continente é teto da maioria dos 500 milhões de jovens que vivem com menos de US$ 2 por dia.
O segundo caminho é o seguido atualmente. Sem investimentos em saúde e ducação, as desigualdades sociais vão se perpetuar.
— O contingente inédito de jovens não é nem deve ser encarado como um obstáculo. É um grande segmento da população que tem capacidade para conduzir o planeta — garante Osotimehin.
Anna acrescenta:
— Mostramos como não existe a possibilidade de aproveitar a oportunidade demográfica se não houver direitos para a população jovem, como a vida sem violência e o trabalho digno.


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